O governo dos Estados Unidos impôs sanções nesta sexta-feira ao presidente da Colômbia, Gustavo Petro, sua família e um membro de seu governo por acusações de envolvimento no tráfico internacional de drogas, aumentando drasticamente as tensões com o líder esquerdista de um dos aliados mais próximos dos EUA na América do Sul. A medida eleva ainda mais as tensões entre Petro e o presidente americano, Donald Trump, que já acusou o colombiano publicamente de liderar cartéis de drogas. Nesta semana, os EUA também expandiram seus ataques militares a embarcações do Caribe para o Oceano Pacífico, acirrando o confronto com o governo colombiano e provocando reações de Petro. O anúncio mais recente do governo dos EUA na escalada de mobilização de forças militares americanas para a região é o envio de porta-aviões para a América do Sul.
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O Departamento do Tesouro nivelou as penalidades contra Petro, sua esposa, Veronica del Socorro Alcocer Garcia, seu filho, Nicolas Fernando Petro Burgos, e o ministro do Interior colombiano, Armando Alberto Benedetti.
Petro “permitiu que os cartéis de drogas florescessem e se recusou a interromper essa atividade”, disse o secretário do Tesouro Scott Bessent em um comunicado. “O presidente [dos EUA, Donald Trump] está tomando medidas fortes para proteger nossa nação e deixar claro que não toleraremos o tráfico de drogas em nosso país”.
As medidas, publicadas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), envolvem o congelamento de todos os bens de Petro nos Estados Unidos, bem como de sua esposa e de um de seus filhos, e também os impedem de realizar transações internacionais com meios de pagamento localizados nos Estados Unidos.
O filho mais velho do presidente colombiano, Nicolas, está em meio a um processo criminal por supostamente ter recebido US$ 100 mil (cerca de R$ 539 mil) para a campanha de seu pai em 2022 de um ex-traficante de drogas que cumpriu pena nos Estados Unidos. Nicolas alega que o dinheiro não chegou ao financiamento da campanha.
Em resposta às sanções, Petro escreveu um pronunciamento no X em que destacou que as medidas ocorrem apesar de sua atuação contra o tráfico de drogas.
“Combater o narcotráfico há décadas e, de forma eficaz, me traz esta medida do governo e da sociedade que tanto ajudamos a acabar com o uso de cocaína”, afirmou Petro. “Nem um passo para trás e nunca de joelhos”.
“Isso prova que todo império é injusto”, disse o ministro sancionado Armando Benedetti, em um discurso inflamado nas redes sociais contra a decisão. “Para os EUA, uma declaração não violenta é o mesmo que ser um traficante de drogas. Gringos, voltem para casa”.
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Mais meios militares e mais ataques
O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, anunciou também nesta sexta-feira que o Pentágono está enviando o porta-aviões USS Gerald R. Ford, descrito pela Marinha americana como “a plataforma de combate mais capaz, adaptável e letal do mundo”, para as águas da América do Sul.
O anúncio ocorre no mesmo dia em que Hegseth confirmou o 10º ataque contra uma embarcação suspeita de transportar drogas na região — e um dia após Washington anunciar exercícios militares com Trinidad e Tobago, a poucos quilômetros do litoral da Venezuela.
Um dia antes, na quinta-feira, Trump sugeriu que ações terrestres serão o próximo passo das atividades americanas contra cartéis de droga no exterior e que as medidas contra o tráfico continuarão mesmo sem o Congresso aprovar primeiro uma declaração de guerra — segundo a Constituição dos EUA, o Legislativo é o único poder que formalmente pode emiti-la.
— Não vou necessariamente pedir uma declaração de guerra — disse Trump após ser questionado por um repórter sobre a possibilidade de fazer pedir uma declaração de guerra do Congresso. — Acho que vamos apenas matar pessoas que trazem drogas para o nosso país, certo? Vamos matá-las, sabe, elas estarão mortas.
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Além das autoridades internacionais, como Petro e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, os ataques letais a embarcações no Caribe e no Pacífico vêm incomodando alguns legisladores devido às poucas evidências apresentadas pelo governo de que os alvos eram realmente o que o governo classifica como “narcoterroristas”. Desde o início do ano, a administração de Trump designou vários cartéis como organizações terroristas, medida que equiparia narcotraficantes a combatentes.
Na coletiva, o republicano também sugeriu que seu governo, para além das ações militares feitas em águas internacionais, começará em breve a atacar cartéis que transportam drogas aos EUA por terra. Não ficou claro, porém, se isso era uma referência ao México e Canadá, que têm fronteira com o território americano. Desde setembro, já foram dez operações no Caribe e no Pacífico, deixando ao menos 40 mortos, em meio a um forte destacamento militar perto da costa da Venezuela e divergências públicas com o governo da Colômbia.
2025-10-24 16:15:00



