Explosão de queixas por barulho escancara omissão da Prefeitura do Rio

Rio de Janeiro vive uma epidemia sonora — e a Prefeitura parece surda ao clamor dos moradores. Em apenas oito meses de 2025, as queixas por perturbação do sossego registradas na central 1746 mais que dobraram: foram 19.639 reclamações, contra


Rio de Janeiro vive uma epidemia sonora — e a Prefeitura parece surda ao clamor dos moradores. Em apenas oito meses de 2025, as queixas por perturbação do sossego registradas na central 1746 mais que dobraram: foram 19.639 reclamações, contra 9.370 em todo o ano de 2024, segundo dados do portal Data.Rio. O salto revela não apenas o avanço desordenado de bares pelas ruas, mas também a inoperância da fiscalização municipal, responsável por coibir o desrespeito à Lei do Silêncio, estampado em faixas e cartazes espalhados pela cidade.

Botafogo, eleito um dos bairros mais descolados do mundo pela revista britânica Time Out, ocupa agora o quarto lugar em denúncias de barulho, atrás apenas de Camorim, Copacabana e Barra da Tijuca. A Rua Fernandes Guimarães, no coração do bairro, virou símbolo do caos: bares que funcionam até 3h da manhã, ambulantes que estendem a festa até o amanhecer, e moradores que precisam de janelas acústicas e TVs ligadas no volume máximo para tentar dormir.

Em outros pontos da cidade, o cenário se repete. No Leblon, a Rua Dias Ferreira acumula queixas e, mesmo após multas pontuais, bares continuam ocupando calçadas e até o meio da rua. Na Zona Norte, em Olaria, um único bar é alvo de 17 protocolos — e segue com música ao vivo na calçada. Na Brás de Pina, o som chega a 91.4 decibéis, quando o limite legal após as 22h é de 65.

O número de autuações, bem aquém das reclamações, mostram a inoperância do Poder Público. A ação da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), que resultou em 419 multas e seis alvarás cassados em 2025, é considerada tímida diante da escalada de abusos. A prometida operação “Ruído Zero” ainda está em fase de estruturação, enquanto moradores recorrem a psiquiatras, vendem imóveis e vivem sob constante tensão.

A omissão da Prefeitura é ainda mais grave considerando que a perturbação do sossego lidera os chamados ao 190, da Polícia Militar, sendo o top 1 nos chamados. O poder público, que deveria garantir o direito ao descanso, parece ter deixado os cariocas à mercê do barulho — e da insônia.

Enquanto o SindRio afirma buscar “harmonia com a vizinhança”, os dados mostram que 94% dos endereços com mais reclamações em 2025 já figuravam na lista de 2024 — e continuam impunes.
A cidade que nunca dorme virou a cidade que não deixa ninguém dormir. E o silêncio, garantido por lei, virou privilégio raro no Rio de Janeiro.

  • com informações de O Globo



Conteúdo Original

2025-10-13 00:52:00

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