preso admite pagamento de resgate por veículos

Com informações de O Globo. A CPI dos roubos de carros no Rio de Janeiro, criada pela Assembleia Legislativa (Alerj), avança nas investigações sobre clonagem de veículos, seguradoras e associações de proteção veicular suspeitas de lucrar com a violência. Na última segunda-feira, os membros do colegiado visitaram unidades prisionais do Complexo de Gericinó, em Bangu, para interrogar, como testemunhas, alguns dos criminosos envolvidos em roubos e na clonagem de carros no Rio de Janeiro. O GLOBO teve acesso aos depoimentos de Vinicius Sebastian dos Santos Catrinck, o Capetão, do Terceiro Comando Puro (TCP), e de Thiago Fernandes Virtuoso, o Tio Comel, do Comando Vermelho (CV). O procedimento é parte da apuração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar empresas de videomonitoramento, seguradoras e associações de proteção veicular que podem estar lucrando com a escalada da violência no estado.

Preso admite que existe pagamento de resgate para devolver veículos

Vinicius Sebastian, preso em junho deste ano durante a Operação Torniquete, da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), é apontado como elo entre assaltantes de vans e cargas da Zona Norte e o TCP. Durante o depoimento, ele falou com os parlamentares por pouco mais de sete minutos, sobre como funcionam os roubos praticados por essa facção, e, além disso, de forma cuidadosa, contou que sabe de casos nos quais seguradoras pagaram pelo resgate de veículos, mas que nunca viu vantagem nesse esquema.

— Isso sempre funcionou nas favelas, as pessoas roubam carro e depois devolvem, mas eu nunca tive envolvimento com isso, não. Acontece de pagarem resgate, sim, mas eu só atuava na parte do desmanche dos veículos. Eu soube que o valor de resgate é proporcional ao carro. Então, varia de carro para carro. E não é a seguradora que vai diretamente negociar, alguém faz uma ponte. Geralmente, é alguém da comunidade que faz contato com os “polícias” — explicou Vinicius de forma genérica.

Segundo ele, carros populares, avaliados em cerca de R$ 60 mil, geram resgastes de R$ 4 a 5 mil. Já em relação aos ferros-velhos, contou que chegava a receber R$ 25 mil pelo desmanche de veículos avaliados em R$ 400 mil, por exemplo.

Fim de visita íntima

Por outro lado, Thiago Fernandes Virtuoso, o Tio Comel, de 35 anos, optou por ficar em silêncio na presença dos deputados. Ele justificou a decisão afirmando que não falaria sem estar acompanhado por advogados. No entanto, aproveitou a ocasião para reclamar sobre o projeto que proíbe visitas íntimas a presos:

— A única coisa que deixa o preso tranquilo é isso aí. Nós somos mais de 50 mil presos e, lá fora, as famílias representam mais do que isso. Então, é tudo voto que vocês vão perder.

Investigações apontam que ele adulterava chassis e motores de carros em até quatro horas, revendendo veículos de R$ 150 mil por cerca de R$ 100 mil, muitas vezes para outros estados ou países vizinhos.

— As visitas às unidades nos ajudam a entender um pouco o modus operandi do crime e o tamanho do mercado que é o roubo de veículos. Estamos chegando na metade da investigação e já identificamos como funciona o sistema e como é o lucro. Agora estamos na fase de identificar pessoa por pessoa e começar a tipificação penal para preparar os indiciamentos — reforçou o deputado Alexandre Knoploch (PL), presidente da CPI.

Na quarta-feira passada, a Alerj aprovou o pacote de Segurança Pública, proposto pelo presidente Rodrigo Bacellar (União), causa da reclamação de Thiago Fernandes. O texto, se sancionado pelo governador Cláudio Castro, vai acabar com as visitas íntimas para quem for condenado por homicídios, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo de uso proibido.