Gravidez e deficiência: veja os desafios e as barreiras para mulheres que desejam ser mães

Preconceito e falta de preparo do sistema de saúde dificultam a maternidade para mulheres com deficiência Freepik Independentemente de suas limitações, as mulheres têm direito ao sonho de ser mães, ao acesso a cuidados adequados e ao respeito às suas


Preconceito e falta de preparo do sistema de saúde dificultam a maternidade para mulheres com deficiência

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Independentemente de suas limitações, as mulheres têm direito ao sonho de ser mães, ao acesso a cuidados adequados e ao respeito às suas escolhas

No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, é importante lembrar que a luta pela inclusão vai além do acesso a rampas, transporte ou educação. Ela também está presente em um dos momentos mais íntimos e transformadores da vida: o desejo de ser mãe. Mulheres com deficiência que sonham em engravidar ou que já estão grávidas enfrentam, além dos desafios naturais da gestação, o peso do preconceito silencioso e de um sistema de saúde que nem sempre está preparado para recebê-las de forma adequada.

O preconceito e o capacitismo na maternidade

Infelizmente, muitas pacientes ainda ouvem perguntas ou comentários que as desencorajam a engravidar: “Será que você pode ser mãe?”, “Não seria arriscado demais?”, “E quem vai cuidar da criança?”. Essas falas, que evidenciam preconceito e capacitismo, reforçam a ideia de que a maternidade é um privilégio reservado apenas às mulheres sem deficiência. Como ginecologista, defendo que a maternidade deve ser entendida como um direito, não como uma concessão.

Os desafios durante a gestação

No dia a dia, a falta de acessibilidade nos consultórios e maternidades é um obstáculo concreto. Salas de exame sem adaptações, equipamentos inadequados e profissionais despreparados tornam o acompanhamento mais difícil e desgastante. Além disso, a ausência de protocolos específicos para gestantes com deficiência faz com que muitas recebam cuidados fragmentados, sem a devida personalização. Para além das barreiras físicas, existe o impacto emocional: viver uma gravidez sob olhares de dúvida ou julgamento pesa tanto quanto lidar com limitações físicas.

Quando a gestante com deficiência encontra uma equipe de saúde disposta a ouvir, adaptar e respeitar suas necessidades, a experiência da gravidez se transforma. Consultas mais longas, exames ajustados à realidade da paciente, orientações claras e um pré-natal realmente humanizado são medidas simples que fazem toda a diferença. Também é fundamental integrar psicólogos, fisioterapeutas e outros profissionais no acompanhamento, garantindo suporte multidisciplinar.

Os desafios após o nascimento

O nascimento de um filho é sempre desafiador, mas para mães com deficiência, ele pode vir acompanhado de ainda mais preconceito. Muitas vezes, a sociedade questiona se essa mulher será capaz de cuidar da criança. Esse olhar descredibiliza o afeto e a dedicação, que são os verdadeiros pilares da maternidade. Cada família encontra seus próprios caminhos de adaptação, e inúmeras mulheres com deficiência mostram diariamente que podem criar, educar e amar seus filhos com a mesma intensidade e competência de qualquer outra mãe.

Reflexão e inclusão

Falar sobre maternidade e deficiência é ampliar o conceito de inclusão. É reconhecer que todas as mulheres, independentemente de suas limitações, têm direito ao sonho de ser mães, ao acesso a cuidados adequados e ao respeito às suas escolhas. No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, a mensagem que deve ecoar é clara: não existem barreiras intransponíveis quando há acolhimento, informação e empatia. O que precisa mudar não são os corpos, mas as atitudes da sociedade e do sistema de saúde.

*Por Ana Horovitz CRM 111739 / SP  RQE 130806
Ginecologista e membro da Brazil Health





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