Enquanto a Guarda Municipal realiza apreensões de caixas de som nas praias em nome da ordem pública, bares e restaurantes do Leblon seguem impunes, mesmo com denúncias recorrentes. A crítica é clara: há uma discrepância gritante entre o rigor aplicado aos ambulantes — frequentemente alvo de operações — e a permissividade com estabelecimentos comerciais que violam abertamente a Lei do Silêncio.
O descaso do prefeito Eduardo Paes (PSD) com os moradores da Zona Sul não é novidade. Em 2020, após críticas à aglomeração em bares do Leblon durante a pandemia, Paes publicou em seu Instagram que havia “preconceito contra o Leblon”, minimizando o problema e sugerindo que a indignação era seletiva. A postagem foi posteriormente apagada, mas o gesto ficou marcado como símbolo da conivência com o caos urbano em áreas nobres da cidade.
Domingo de revolta: moradores vão às ruas
Na noite do último domingo (14), moradores do Leblon desceram às ruas em protesto contra o barulho vindo do Brasa Leblon. Segundo relatos, o estabelecimento promove música alta na calçada todos os domingos à noite, tornando insuportável a convivência para quem vive nas proximidades. O estabelecimento não se manifestou.
A Associação de Moradores do Leblon (AmaLeblon) e a Associação Comercial do bairro (Acleblon) publicaram um apelo nas redes sociais:
“O desrespeito com os moradores, a falta de fiscalização chega a um ponto insustentável. Fiscalização para reprimir o abuso não existe… a quem recorrer? SOCORRO!!!”
Evelyn Rosenweig, presidente das duas associações, reforçou que o problema é recorrente e que a prefeitura tem se mostrado omissa:
“Não foi um problema do domingo. É um desrespeito que vem acontecendo direto… e não tem fiscalização por parte da prefeitura, que parece ser conivente com os desmandos do restaurante.”
Barulho institucionalizado
A indignação se estende para além do Brasa. Moradores também denunciaram uma roda de samba na Praça Antero de Quental, que utiliza amplificadores e microfones em alto volume todas as sextas-feiras.
“É impossível para bebês, crianças, idosos e pessoas doentes que precisam dormir cedo ou descansar”, comentou Cintia Barreto.
Vozes da indignação
Nas redes sociais, o sentimento é de abandono e revolta:
– “Um IPTU caríssimo. E o poder público não age.” — Carlos Pinheiro
– “A Guarda Municipal deveria apreender todas as caixas de som assim como faz nas praias.” — Carmem Silva
– “A fiscalização é só pra apreender mercadorias dos ambulantes que precisam trabalhar.” — Carlos Abrantes
– “Votaram direto no prefeito Carnavalesco e Rei da Desordem.” — Vladimir Ribeiro
– “@subzonasul.rio omissa e conivente. Nós moradores de Botafogo enfrentamos o mesmo problema.” — André Soares
Desvalorização e desgaste
Além do incômodo sonoro, os moradores apontam prejuízos financeiros e emocionais. Imóveis têm perdido valor, e a qualidade de vida está em queda livre. A prefeitura ainda não se pronunciou sobre o caso.
“Nada justifica um som tão alto. Falta empatia com quem vive no entorno”, lamentou Hebe Cavalcante.
Uma cidade que escolhe quem pode fazer barulho
O episódio no Leblon escancara uma política urbana seletiva, onde o poder público age com mão pesada contra trabalhadores informais, mas fecha os olhos para abusos cometidos por bares e restaurantes. A omissão da prefeitura, somada à falta de fiscalização, transforma o cotidiano dos moradores em um tormento — e reforça a percepção de que, no Rio de Janeiro, o silêncio é um privilégio para poucos.
2025-09-17 12:35:00