A Polícia de São Paulo cumpriu nesta quarta-feira, 17, oito mandados de busca e apreensão em endereços da capital e da região metropolitana nas investigações envolvendo o assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes. Conforme já havia dito o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, dois envolvidos já foram identificados. A mãe de um deles prestou depoimento, mas seu nome não foi divulgado, tampouco o teor do que ela disse.
Nesta manhã, uma pessoa foi levada ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) para averiguação, mas a polícia descartou que ela fizesse parte do grupo de suspeitos que atacou e matou o ex-delegado. As forças de segurança ainda evitam dar detalhes sobre as investigações para não comprometer o trabalho.
Morto a tiros nesta segunda-feira, Fontes foi jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) por “retaliação”, após decidir transferir 15 lideranças da cúpula da facção em agosto de 2019. A secretaria ainda investiga se a emboscada teria sido uma uma vingança da facção criminoso ou estaria relacionada a atuação de Fontes na administração da Praia Grande.
O ex-delegado-geral foi executado enquanto dirigia um carro. Imagens do crime mostram seu veículo sendo perseguido e colidindo com um ônibus. Na sequência, homens descem de outro carro e atiram contra o automóvel da vítima. O ataque ocorreu na avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas, na Vila Caiçara, por volta das 18h20, segundo a Polícia Militar.
Um homem e uma mulher que caminhavam pela região também foram baleados e encaminhados para o pronto-socorro, informou a prefeitura de Praia Grande. Eles não correm risco de morte.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), determinou a criação de uma força-tarefa para identificar os assassinos. Equipes da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e do DHPP foram deslocadas para o litoral. Os agentes também foram enviados a Praia Grande para reforçar o policiamento ostensivo e tentar evitar que os suspeitos deixem a cidade.
Nomeado pelo então governador João Doria, Fontes assumiu a função de delegado-geral da Polícia Civil de 2019 a 2022. Desde 2023, trabalhava na prefeitura de Praia Grande.
Fontes foi o delegado responsável por revelar a organização, a estrutura hierárquica e a dimensão do PCC pouco tempo depois que a facção surgiu nos presídios paulistas. São dele também os inquéritos policiais que resultaram nas principais condenações de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da organização criminosa.
Marcola e outras 14 lideranças da facção cumpriam pena em Presidente Venceslau (SP) quando foi determinada a transferência para o sistema federal. A notícia desagradou ao PCC, segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) que veio à tona em agosto de 2019. Ele foi jurado de morte à época.
Três semanas antes de ser executado, Fontes afirmou temer por sua segurança. No dia 25 de agosto, ele disse que estava “sozinho” na cidade da Baixada Santista, reduto antigo do PCC, e que não contava com nenhuma proteção do Estado. A declaração foi dada durante uma longa entrevista para um podcast, ainda em produção, da rádio CBN e do jornal O GLOBO.
— Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Para mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu estava pouco me importando, teria estrutura para me defender; hoje não tenho estrutura nenhuma.
O GLOBO apurou que, além de uma ameaça de morte mais antiga, Fontes foi citado por criminosos do PCC na mesma ocasião em que a facção jurou de morte o ex-juiz e senador Sérgio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo.
O nome de Fontes, entretanto, não se tornou público. Ele foi avisado pessoalmente que era um dos alvos, mas a informação ficou apenas no âmbito da inteligência do MP. O plano de execução foi descoberto pela Polícia Federal, que deflagrou uma operação para desmobilizar o crime em março de 2023.
2025-09-17 09:46:00