Polícia identifica núcleo que fornecia armas e munições para traficantes de animais silvestres

O grupo criminoso alvo de uma operação contra o tráfico de animais silvestres atuava em diversos núcleos. De acordo com a Polícia Civil, os integrantes tinham relação direta com o tráfico de drogas e recebiam armas e munições para proteger


O grupo criminoso alvo de uma operação contra o tráfico de animais silvestres atuava em diversos núcleos. De acordo com a Polícia Civil, os integrantes tinham relação direta com o tráfico de drogas e recebiam armas e munições para proteger a atividade ilegal. Segundo o delegado André Prates, titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), eles recebiam armamento em “larga escala”. Nesta terça-feira, 45 pessoas foram presas e mais de 700 animais foram resgatados.

  • ‘Tinha sede de viver’, diz Felipe Titto, ex-sócio de Gabriel Farrel, morto após acidente com paraquedas no Rio
  • ‘Razões humanitárias’: Celsinho da Vila Vintém cumprirá pena em liberdade após STJ aceitar habeas corpus

— O tráfico de animais e o tráfico de drogas integram a mesma organização criminosa, com duas frentes lucrativas distintas. Porém, são os mesmos indivíduos, os mesmos elementos. Fica o alerta à população: quem compra o animal silvestre pode ser preso e, além disso, alimenta o tráfico e a crueldade contra esses animais. Jamais adquiram animais silvestres, porque é um rastro de sangue que você está levando para a sua casa — explicou o delegado.

De acordo com ele, os indivíduos foram denunciados por organização criminosa armada, e alguns foram presos na operação desta terça-feira.

— Um dos foragidos é apontado como latrocida contumaz, indivíduo de alta periculosidade vinculado ao tráfico de drogas.

  • Tragédia: Aliviado por terem encontrado o corpo e triste por enterrar meu filho de 15 anos’, diz pai de adolescente que se afogou no Leme

Segundo revelou o colunista Lauro Jardim, as investigações apontam que TH Joias esteve diretamente envolvido no esquema: em pelo menos quatro ocasiões, ele teria negociado e comprado macacos. Os animais teriam sido dado de presente para traficantes, aponta a investigação. Em áudios obtidos pela Polícia Civil, um dos traficantes chega a exaltar a proximidade com o deputado, dizendo que o parlamentar não só adquiria os animais como também o ajudava a encontrar novos compradores.

Numa ação anterior, a polícia apreendeu dezenas de tartarugas sendo contrabandeadas numa mala — Foto: Divulgação

Caçadores e falsificadores

Ao todo, 145 suspeitos foram identificados. O grupo, de acordo com a polícia, explora há décadas o tráfico de animais silvestres no estado, sendo o principal responsável por fornecer espécimes vendidos em feiras clandestinas. Um dos núcleos da organização criminosa é composto pelos caçadores, responsáveis pela caça em larga escala de animais silvestres em seus habitats naturais. Após serem sequestrados da natureza, os animais eram transportados por integrantes do chamado núcleo de atravessadores: eles tinham a função de entregar os espécimes nos centros urbanos para a comercialização.

Havia ainda um núcleo especializado em primatas, que caçava, dopava e vendia macacos para outros integrantes do grupo. Muitos dos animais eram retirados das matas fluminenses, como o Parque Nacional da Tijuca e o Horto.

  • TH Jóias e Comando Vermelho planejavam lançar Índio, preso por ligação ao tráfico, como candidato a vereador em Duque de Caxias

Outro núcleo identificado é o dos falsificadores, que vendia anilhas, selos públicos, chips e documentos falsos para mascarar a origem ilícita dos animais. O grupo também tinha um núcleo de armas, responsável pelo fornecimento de armamento e munição para a organização. Os investigadores também identificaram diversos consumidores finais, que adquiriram animais silvestres de forma ilegal, alimentando a cadeia criminosa.

A operação teve o apoio de delegacias dos Departamentos-Gerais de Polícia Especializada (DGPE), da Capital (DGPC), da Baixada (DGPB) e do Interior (DGPI), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte), além da Secretaria estadual do Ambiente e Sustentabilidade (Seas) e do Ministério Público. Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Ibama colaboraram com as investigações.

  • Quem é quem no esquema de TH Jóias: relatório da PF revela rede que unia política, tráfico e empresários

Os animais eram oferecidos e negociados em grupos de redes sociais. Numa das conversas flagradas pela polícia, um macaco mão-de-ouro (Saimiri sciureus), também conhecido como macaco-de-cheiro, é oferecido por R$ 3.500. “Macaco mão de ouro, raridade no Rio”, diz a mensagem, frisando que o preço do animal é “pra sair hoje”.

Numa das conversas, os traficantes de animais oferecem um macaco mão-de-ouro — Foto: Reprodução
Numa das conversas, os traficantes de animais oferecem um macaco mão-de-ouro — Foto: Reprodução

Em outra postagem, um filhote de macaco-prego (Sapajus apella) é oferecido por R$ 4.500, com retirada do animal nos complexos do Alemão ou da Penha.

Filhote de macaco-prego é vendido pelos traficantes a R$ 4.500 — Foto: Reprodução
Filhote de macaco-prego é vendido pelos traficantes a R$ 4.500 — Foto: Reprodução

O delegado André Prates Fraga, da DPMA, destacou que a quadrilha tinha atuação interestadual e uma estrutura complexa, com transportadores, falsificadores de documentos e fornecedores de armas e munições, abastecendo feiras clandestinas de várias regiões do país.

— É importante que a população tenha consciência de jamais comprar qualquer animal silvestre em feiras, porque é isso que alimenta toda a cadeia criminosa: o tráfico de animais, os maus-tratos e muita crueldade. A grande maioria desses animais morre no trajeto — afirmou Fraga.

De acordo com o delegado André Neves, do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), o tráfico de animais alimentava uma cadeia criminosa:

— Para se ter noção da nocividade dessa organização criminosa, um dos alvos é acusado de assassinar três PMs. Na investigação, tivemos acesso a conversas em que ele se vangloriava disso.

O delegado ainda afirma que, a extração dos animais da natureza era muito intensa.

— Se não fosse dado um basta, haveria a extinção completa de algumas espécies.

Houve um confronto com suspeitos quando a polícia foi cumprir um mandado na comunidade Vai Quem Quer, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. De acordo com o delegado André Prates Fraga, a inteligência da polícia identificou a movimentação de três criminosos que planejavam cometer um roubo.

— Eles estavam a caminho de praticar um grande roubo, provavelmente a caixa eletrônico. Estavam com um cinturão de artefatos explosivos de alta letalidade. Portavam também fuzis, coletes e granadas. Agimos e conseguimos prendê-los, mas eles atiraram contra os policiais, e um suspeito foi baleado.

Segundo o delegado, o homem baleado foi levado para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Caxias.

O secretário do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destacou que os animais passavam por um “corredor da morte”:

— Infelizmente, há mercado para isso. No tráfico internacional, um casal de micos-leões pode custar até US$ 250 mil. É uma crueldade muito grande. Desde o transporte, feito em plástico preto, caixas de relógio, canos, até mesmo aves que chegaram aqui já mortas, deitadas na própria gaiola, sem ninguém verificar. É um grau de crueldade contra a biodiversidade sem precedentes.O sistema funcionava como um “corredor da morte”. Porque pela forma como eram feitas a retirada e o transporte, cerca de 60% dos animais chegavam sem vida ao destino.

Segundo ele, ficou comprovada na investigação a relação entre os criminosos com o tráfico de drogas e armas. De acordo com o secretário, a investigação identificou uma pessoa que comercializou 45 mil espécies.

— Na investigação vimos primatas e onças sendo comercializados com o tráfico de drogas — disse.

De acordo com o presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Fernando Jordão, os bichos tinham origens diversas. Eles chegavam ao Rio vindos do Nordeste e do Centro-Oeste do Brasil, mas outros também eram retirados das florestas do Estado. Há casos, inclusive, em que foram capturados no Parque Nacional da Tijuca.

— O governo do estado é implacável na fiscalização em relação ao meio ambiente. Claro que sempre precisa melhorar, mas o problema é a conscientização das pessoas que compram esses animais, que transportam, que vendem, que vão às feiras. Isso é o que precisa mudar — explicou.



Conteúdo Original

2025-09-17 06:30:00

Posts Recentes

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE