A audiência pública realizada nesta semana pela Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal do Rio escancarou uma crise silenciosa: o abandono das calçadas cariocas. Enquanto o prefeito Eduardo Paes (PSD) evita assumir responsabilidades, cidades vizinhas como Maricá, Teresópolis e Cabo Frio mostram que é possível garantir mobilidade com dignidade. Com apoio da Firjan, esses municípios adotaram o Manual das Calçadas, que padroniza o pavimento urbano com foco em segurança, acessibilidade e sustentabilidade.
Reclamações em alta, acessibilidade em baixa
Entre julho de 2023 e agosto de 2025, mais de 31 mil reclamações foram registradas no Portal 1746 sobre calçadas esburacadas, desniveladas e intransitáveis. Especialistas e representantes da sociedade civil denunciaram, na audiência da última quinta-feira (5), a negligência do poder público e a confusão normativa que impede avanços. “A acessibilidade zero das calçadas coloca vidas em risco”, alertou José Roberto da Silva, deficiente visual. A arquiteta Regina Cohen, cadeirante e membro do CAU-RJ, criticou o uso indiscriminado das pedras portuguesas, perigosas e não obrigatórias fora de áreas tombadas.
Calçada virou balcão
A ocupação desordenada das calçadas por mesas, cadeiras, barracas, ambulantes e moradores de rua também foi apontada como agravante. A Lei Complementar 226/2020, criada para apoiar o comércio pós-pandemia, foi duramente criticada por ignorar os pedestres. “Essa lei ignorou por completo os cidadãos”, disparou Débora Matos, da Associação de Moradores de Ipanema.
Promessas lisas, chão torto
Apesar das promessas feitas por Paes em sabatina na Associação Comercial do Rio, como calçadas lisas nos grandes centros, bairros como Tijuca, Copacabana, Madureira e Campo Grande seguem enfrentando obstáculos diários. Enquanto isso, mais de 45 municípios fluminenses já adotaram o Manual das Calçadas, provando que planejamento e vontade política são capazes de transformar a mobilidade urbana.
A calçada da vergonha
Em concurso promovido pela Câmara, a calçada da Rua Mário Piragibe, em Lins de Vasconcelos, foi eleita a pior do Rio. O ranking inclui ainda a Rua Guiraréia, na Estrada do Barro Vermelho, e a Rua Cosme Velho — símbolos de uma cidade que ignora o básico: garantir que seus cidadãos possam caminhar com segurança. A audiência pública confirmou o que os números já gritavam: o Rio de Janeiro vive uma crise de mobilidade a pé, e milhares de cariocas seguem tropeçando — literalmente — no abandono.
2025-09-06 12:00:00