Em meio a denúncias de sucateamento, falta de especialistas e risco de extinção de unidades estratégicas, a Comissão de Higiene, Saúde Pública e Bem-Estar Social da Câmara Municipal do Rio realizou nesta quinta-feira (4) uma audiência pública que expôs o estado crítico dos hospitais federais na cidade. O encontro, solicitado pela Defensoria Pública da União (DPU), reuniu autoridades, parlamentares e profissionais da saúde em um debate marcado por denúncias contundentes e cobranças urgentes.
A audiência pública escancarou o colapso silencioso dos hospitais federais no Rio de Janeiro. Com o vereador Rogério Amorim à frente, a Câmara promete intensificar a fiscalização e cobrar soluções concretas. Enquanto isso, milhares de pacientes seguem à mercê de um sistema que agoniza — e que precisa de socorro urgente.
Rogério Amorim lidera reação contra o desmonte
Vice-presidente da comissão e presidente da audiência, o vereador Dr. Rogério Amorim (PL) — neurocirurgião e professor — fez duras críticas à gestão do Hospital Universitário Graffrée e Guinle. “Houve avanço tecnológico e contratação de pessoal, mas ficou muito aquém do prometido. Ensino e assistência continuam comprometidos”, afirmou.
Amorim também alertou para o impacto da precarização na formação médica: “Temos cada vez mais residentes e menos estrutura para formá-los. Isso compromete o futuro da saúde pública. Daqui a 30 anos, como estarão esses profissionais?”
Hospitais em ruínas e população desassistida
A defensora pública Taísa Bittencourt, da 2ª Defensoria Regional de Direitos Humanos, apresentou um panorama alarmante:
– No Hospital Federal de Bonsucesso, há denúncias de contratações sem qualificação e uso de equipamentos obsoletos.
– O Hospital do Andaraí virou um canteiro de obras sem prazo para retomada plena.
– No Cardoso Fontes, não houve ampliação das equipes de enfermagem, fisioterapia e fonoaudiologia.
– No Hospital da Lagoa, o acordo com a Fiocruz para integração com o Instituto Fernandes Figueira pode reduzir leitos e extinguir o perfil de hospital geral.
A procuradora da República Marina Filgueira foi enfática: “Estamos acompanhando o definhamento dos hospitais federais. O MPF já ajuizou diversas ações, mas o Judiciário se recusa a determinar concursos públicos. Isso é inaceitável.”
Hospital da Lagoa: produtividade alta, ameaça iminente
Felipe Gomes, diretor clínico do Hospital da Lagoa, revelou números impressionantes: 169 mil consultas em 2024, mais de 8 mil cirurgias e 1.200 procedimentos pediátricos. “Somos eficientes e estratégicos. Transformar o hospital em unidade materno-infantil é decretar sua extinção”, alertou.
A pediatra Priscila Mattos reforçou: “Não é só uma mudança administrativa. É uma ruptura no perfil assistencial. Milhares ficarão sem atendimento.”
Ministério da Saúde admite dificuldades
Teresa Navarro, diretora do Departamento de Gestão Hospitalar do Estado do Rio, reconheceu os desafios na contratação de especialistas e defendeu novas formas de recomposição da força de trabalho. Sobre Bonsucesso, afirmou que 200 leitos foram reabertos e a emergência retomada. No Andaraí, as obras devem ser concluídas até janeiro de 2026.
Entretanto, médicos como Ricardo Castelani acusam o Ministério de querer extinguir o Hospital da Lagoa. “A portaria assinada pelo ministro Alexandre Padilha visa a substituição da unidade pelo Instituto Fernandes Figueira”, disse.
Desmonte histórico e ausência do poder municipal
O presidente da comissão, vereador Dr. Gilberto (SDD), foi categórico: “A destruição dos hospitais federais começou em 2002. Sem uma reação forte, não há luz no fim do túnel.” Ele também lamentou a ausência de representantes da Secretaria Municipal de Saúde.
Participaram da audiência os vereadores Marcos Dias (Podemos), Renata Pinheiro (Defensoria Pública do Estado), Kitty Crawford (Secretaria Estadual de Saúde) e o ex-vereador Paulo Pinheiro.
2025-09-05 11:00:00