Enquanto o prefeito Eduardo Paes brilha sob os holofotes do samba-enredo e das grandes escolas de samba, os blocos de rua — alma pulsante do carnaval carioca — enfrentam abandono, falta de infraestrutura e silêncio institucional. A audiência pública realizada nesta terça-feira (2) pela Comissão Especial da Câmara Municipal escancarou o impasse entre a Prefeitura do Rio e os coletivos carnavalescos, após a decisão de transferir os ensaios da tradicional Praça Paris, na Glória, para o Passeio Público, no Centro.
Folia para poucos?
A mudança, feita sem consulta prévia, foi duramente criticada por representantes dos blocos e moradores. A vereadora Monica Benicio (PSOL), presidente da comissão, classificou a atitude como reflexo da “falta de diálogo da Prefeitura” e lamentou a ausência de representantes da Secretaria Municipal de Cultura e da Subprefeitura do Centro — convidados, mas ausentes. “A ausência dos gestores evidencia o desinteresse em resolver o impasse”, disparou.
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Blocos pedem respeito e espaço
Jô Codeço, do bloco Me Enterra na Quarta, denunciou o esvaziamento cultural da Glória e o risco de elitização do território. “Transferir os ensaios para áreas inseguras e sem estrutura é empurrar a cultura popular para a margem”, afirmou. A proposta dos blocos inclui regras claras de uso da Praça Paris, limite de som até as 22h e a criação de um fórum permanente de diálogo com a prefeitura.
Caos urbano e falta de infraestrutura
Moradores da Glória também se manifestaram. A professora Maria Célia relatou o caos urbano causado pela falta de planejamento. “Temos ensaios a semana inteira e eventos aos fins de semana. A prefeitura precisa oferecer locais adequados, com acústica e segurança”, sugeriu, propondo o uso de prédios abandonados no Centro para os ensaios.
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Prefeitura ausente, carnaval em risco
Apesar das falas conciliadoras de representantes da Secretaria de Ordem Pública e da Guarda Municipal, que prometeram reforço na segurança e abertura ao diálogo, a ausência dos principais responsáveis pela decisão deixou claro o descompasso entre o discurso oficial e a realidade dos blocos de rua.
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Enquanto isso, no circuito dos megablocos…
Em contraste, o prefeito Eduardo Paes oficializou recentemente o “Circuito Preta Gil”, trajeto exclusivo para megablocos no Centro do Rio, exaltando a importância da cantora para o carnaval de rua. A homenagem, embora justa, reforça a crítica de que Paes privilegia os grandes eventos com apelo midiático, enquanto ignora a base comunitária que sustenta a folia carioca.
Carnaval para quem?
A audiência pública deixou claro: o carnaval carioca não se faz apenas com desfiles na Sapucaí ou trios elétricos na Avenida Presidente Antônio Carlos. Ele nasce nos ensaios de rua, nas praças, nos bairros. E sem diálogo, infraestrutura e respeito, o risco é transformar a festa popular em espetáculo para poucos.
2025-09-02 16:29:00