Como ‘Samba da Benção’, obra de um poeta ateu, foi…

Uma das maiores obras da MPB – e universal -, “Samba da Benção” foi parar na terceira encíclica do papa Francisco, batizada como “Todos Irmãos” (“Fratelli Tutti”, em italiano). Divulgado em 2020 no Dia de São Francisco (4 de outubro),



Uma das maiores obras da MPB – e universal -, “Samba da Benção” foi parar na terceira encíclica do papa Francisco, batizada como “Todos Irmãos” (“Fratelli Tutti”, em italiano). Divulgado em 2020 no Dia de São Francisco (4 de outubro), o documento traz um discurso radical no campo social e político: nele, o pontífice ataca o consumismo, o liberalismo econômico, a tirania da propriedade privada, a falta de empatia com os imigrantes e até o controle das empresas digitais sobre a população e a informação. Na época, ele surpreendeu ao citar versos da canção composta por Vinicius de Moraes e Baden Powell no início dos anos de 1960. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, escreveu o papa no sexto capítulo, dedicado ao “diálogo” e à “amizade social”.

O argentino Jorge Mario Bergoglio defendia uma cultura do encontro que superasse as dialéticas que colocam um contra o outro. “É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque o todo é superior à parte”, explicou ele, que foi autor de quatro encíclicas, um dos documentos mais importantes da Igreja Católica.

Um dos pontos que chama a atenção é que o papa foi buscar inspiração na letra de um poeta que se dizia, no momento da criação de “Samba da Benção”, ateu. Vinicius teve formação católica e, posteriormente, se envolveria com a cultura dos orixás. A música, anterior aos afro sambas, expõe o ceticismo do compositor, que antes de cantar os versos citados pelo papa, afirma: “A vida é pra valer/E não se engane não, tem uma só/Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado/Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo/Deus, e com firma reconhecida”. 

O canção, composta com “muito uísque na cuca” (como contava Vinicius) ao lado de Baden, num apartamento do Parque Guinle, no Rio, é uma homenagem à cultura brasileira. Nela, o poeta dá a benção a todos os grandes sambistas brasileiros, entre eles Pixinguinha, Cartola e Nelson Cavaquinho, antes de acenar aos orixás quando diz que o Brasil é “branco, preto, mulato, lindo como a pele macia de Oxum”. 



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