Em uma operação que revela o grau de organização das facções criminosas no Brasil, a Polícia Civil do Ceará desmantelou nesta quarta-feira (20) um verdadeiro “setor de Recursos Humanos” dentro de uma organização criminosa.
A facção mantinha arquivos com fichas detalhadas de seus integrantes — incluindo foto, nome completo, apelido, tempo de atuação, função no grupo e até o “padrinho” responsável pela entrada do criminoso na organização.
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Currículos do crime
As fichas funcionavam como um cadastro formal, permitindo à facção distribuir tarefas conforme a “especialidade” de cada membro. Nas imagens obtidas pela polícia, os criminosos aparecem sorridentes, fazendo gestos típicos da facção, em um retrato perturbador da banalização da violência organizada.
Segundo o delegado Thiago Salgado, da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), o sistema interno da facção facilitava a identificação de áreas de atuação e vínculos hierárquicos. “Eles informavam o bairro onde operavam, quem os apadrinhou e até o tempo de envolvimento com o crime”, detalhou.
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Operação Nocaute V
A descoberta foi o ponto de partida para a deflagração da Operação Nocaute V, que mobilizou mais de 200 agentes em quatro estados: Ceará, Piauí, Maranhão e Distrito Federal. Foram cumpridos 88 mandados de prisão — 43 contra suspeitos em liberdade e 45 dentro de unidades prisionais. A ofensiva também resultou na apreensão de armas, drogas e no bloqueio de até R$ 13 milhões em contas bancárias ligadas à organização.
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Facções em expansão: um retrato nacional
A operação escancara o avanço das facções pelo território nacional, alimentadas por uma legislação penal considerada obsoleta por especialistas e pela política de desencarceramento promovida pelo governo federal. A fragilidade na vigilância das fronteiras brasileiras também contribui para a entrada de armas e drogas, fortalecendo o poder bélico dessas organizações.
Enquanto o aparato policial se desdobra em ações pontuais, o crime organizado se profissionaliza, criando estruturas internas que rivalizam com empresas formais. O caso do “RH do crime” é apenas mais um sintoma de um problema que exige resposta urgente — legislativa, estratégica e diplomática.
O Brasil está diante de um dilema: combater com inteligência ou assistir à institucionalização do crime.
2025-08-21 07:00:00