A maioria dos brasileiros não só rejeita a ideia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez tudo o que podia para evitar o tarifaço de Donald Trump, como também não quer nem cogitar sua reeleição. É o que revela a pesquisa Ipsos-Ipec, realizada com 2 mil pessoas em 132 municípios e divulgada nesta semana.
Diante do tarifaço, Lula parece ter adotado uma estratégia controversa: deixar a crise se aprofundar para, então, tentar capitalizar politicamente sobre ela. Mas a tática do “quanto pior, melhor” — que mira a recuperação de sua popularidade em meio ao desgaste — não tem convencido a maioria dos brasileiros, que enxergam omissão e calculismo onde deveria haver diplomacia.
Tarifaço expõe fragilidade diplomática e descontentamento popular
Segundo o levantamento realizado entre 1º e 5 de agosto, 51% dos brasileiros discordam que Lula fez tudo o que podia para evitar o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros. Apenas 41% acreditam que o presidente fez tudo o que podia sobre o tema.
A percepção de omissão é agravada pelo fato de que o presidente descartou negociar diretamente com Trump na véspera da entrada em vigor das tarifas, mesmo após o líder americano afirmar publicamente que estaria aberto ao diálogo.
A resposta do governo veio em forma de pronunciamentos e promessas de planos de contingência, como concessão de crédito e aumento de compras governamentais. Mas, para muitos, a reação foi tardia e insuficiente — além de contribuir para aumentar ainda mais o rombo fiscal.
Rejeição à reeleição cresce: 62% dizem ‘não’ a Lula em 2026
O desgaste político é evidente. A mesma pesquisa aponta que 62% dos brasileiros acreditam que Lula não deveria tentar a reeleição em 2026. O dado é ainda mais simbólico quando se observa que até entre os eleitores do presidente, 30% são contrários a um novo mandato. A rejeição se estende às camadas mais pobres, onde metade dos entrevistados também desaprova a ideia de reeleição.
Aposta na soberania e retórica nacionalista não convence
Lula tem tentado capitalizar politicamente o embate com os EUA, reforçando discursos sobre soberania nacional e independência dos poderes. Mas a retórica não tem surtido o efeito desejado. A percepção de que o presidente preferiu o enfrentamento simbólico à negociação direta tem alimentado críticas de que ele estaria mais preocupado em construir uma narrativa eleitoral do que em proteger os interesses econômicos do país.
Brasileiros preferem os EUA, mas Lula aposta na China — e o povo paga a conta, revela PoderData
O preço da estratégia: empregos, exportações e confiança em jogo
Enquanto o governo prepara medidas paliativas, setores produtivos como o petroquímico, celulose e cacau já sentem os impactos da sobretaxa. Empresários e governadores cobram ações concretas, e o clima é de apreensão.
A aposta de Lula em se posicionar como vítima de uma agressão externa pode ter efeito reverso: consolidar a imagem de um líder que falhou em proteger o país quando mais precisava.
Se a estratégia era transformar a crise em trampolim político, os números mostram que Lula pode ter mergulhado de cabeça — sem água na piscina.
2025-08-12 15:21:00
