suspeita de dopar e roubar turistas ficou seis meses presa pelo mesmo crime e deixou a cadeia há um mês

Na sexta-feira, dois turistas britânicos foram vítimas do golpe “boa noite, Cinderela” na praia de Ipanema, Zona Sul do Rio. As imagens de uma das vítimas cambaleando até cair nas areias chocou o mundo. Três mulheres são suspeitas do crime.


Na sexta-feira, dois turistas britânicos foram vítimas do golpe “boa noite, Cinderela” na praia de Ipanema, Zona Sul do Rio. As imagens de uma das vítimas cambaleando até cair nas areias chocou o mundo. Três mulheres são suspeitas do crime. Uma delas é Raiane Campos Oliveira, de 27 anos, com 24 registros em delegacias. Ela deixou a prisão no mês passado após passar seis meses na cadeia e ser absolvida.

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Raiane foi condenada a 6 anos de prisão no regime semiaberto e foi presa em dezembro do ano passado. Ela foi acusada de aplicar o mesmo golpe a um turista inglês que afirmou ter sido dopado e roubado por duas mulheres que conheceu em um samba na Pedra do Sal, em 2023. A vítima contou em depoimento à Polícia Civil que levou as mulheres para casa e ao ir ao banheiro deixou um copo d’água na pia da cozinha. Ao voltar, bebeu e não se recordava de mais nada após esse momento. Ele acordou cerca de cinco horas depois e percebeu que as mulheres foram embora e seu celular e outros bens tinham sumidos.

No entanto, Raiane foi absolvida com unanimidade pela 8ª Câmara Criminal no último mês. Os desembargadores entenderam que não havia elementos suficientes que comprovassem que ela era uma das autoras do roubo. Isso porque a vítima do roubo não reconheceu legalmente e formalmente as suspeitas e as imagens do circuito de segurança não permitiam identificar ninguém.

As outras suspeitas de terem cometido o golpe contra os turistas britânicos em Ipanema na última semana foram identificadas como Amanda Couti Deloca, 23 anos, e Mayara Ketelyn Américo da Silva, de 26. Segundo a polícia, as três suspeitas são moradoras do Complexo do Chapadão e juntas acumulam 27 passagens por crimes de roubo, ameaça e associação criminosa.

O golpe conhecido como “Boa Noite, Cinderela” — em que a vítima é dopada para que seus bens sejam roubados — é uma prática antiga e ainda bastante comum no Rio de Janeiro. A Delegacia de Atendimento ao Turismo (Deat), que atua no combate a esse crime, alerta para a necessidade de prevenção, principalmente entre os turistas que frequentam a cidade.

Polícia investiga mulheres por golpe do ‘boa noite Cinderela’ no Rio

A delegada Patrícia Alemany, titular da Deat, falou ao GLOBO e deu detalhes desse tipo de crime, quais as substâncias usadas, e os locais onde a prática é mais frequente.

— Esse tipo de crime é bem conhecido pelos cariocas e até mesmo no mundo todo. É um golpe que tem muita reincidência, infelizmente — explica a delegada Patrícia Alemany. Para ela, a dificuldade para que as vítimas façam o exame de corpo de delito — fundamental para comprovar o uso de substâncias dopantes — contribui para que o crime continue acontecendo.

— Há uma certa demora da vítima em fazer algum tipo de laudo técnico. Isso dificulta saber se realmente foi usado algum tipo de droga para dopar a pessoa. A dificuldade maior está nesse ponto — afirma.

Prevenção é o melhor caminho

Para evitar cair no golpe, a delegada recomenda atenção redobrada com a bebida e o comportamento das pessoas ao redor, principalmente em locais de festa ou balada, que geralmente são o cenário para o crime.

— O golpe costuma acontecer na madrugada, quando a vítima já consumiu bebida alcoólica e está mais vulnerável. É preciso ficar atento e cuidar da sua bebida o tempo todo — orienta a delegada ao explicar.

— Também é importante observar o comportamento das pessoas. Geralmente, agem em grupos de duas ou três pessoas. Evitar levar essas pessoas para apartamentos alugados, porque geralmente esse tipo de crime ocorre mais em apartamentos do que em hotéis, que têm mais segurança e controle de acesso.

Localização e modo de operação

A delegada destaca que os crimes acontecem muito na região da Pedra do Sal e da Lapa, duas áreas com vida noturna intensa que se estende até as primeiras horas da manhã. Ela explica que, apesar da fama da Lapa, os moradores locais não se incomodam com o movimento, pois é um dos poucos pontos do Rio que funciona até tarde.

— Muitos desses encontros são marcados por aplicativos e podem terminar tanto em apartamentos alugados quanto nas ruas — detalha.

— Antes, a Pedra do Sal tinha o samba até por volta das 23h, mas agora virou um ponto que funciona até o amanhecer, o que exige um ordenamento mais efetivo por parte da prefeitura.

Substâncias usadas no golpe

A polícia já identificou as drogas mais comuns utilizadas para dopar as vítimas: o clonazepam — um potente sonífero — e a ketamina, anestésico também usado em veterinária para dopar cavalos e animais de grande porte.

O que mais aparece é o clonazepam, que compõe o Rivotril. Também já pegamos ketamina, uma droga poderosa usada até para anestesiar cavalos. Não há novas drogas identificadas para esse tipo de golpe até agora — conta a delegada.

Embora o golpe seja antigo, a delegada explica que o aumento na sensação de ocorrências deve-se principalmente ao crescimento no fluxo de turistas no Rio de Janeiro.

—- No ano passado, recebemos 1,26 milhão de turistas entre janeiro e dezembro. Este ano, até agosto, já passamos de 1,32 milhão, destaca Patrícia, destacando o aumento de ocorrências:

—- Ano passado, registramos pouco mais de 3.400 ocorrências, sendo 85% delas relacionadas a furtos, principalmente de celulares em praias. Este ano, já tivemos mais de 4.000 casos, o que é um número proporcional ao aumento de turistas na cidade.

Patrícia também destacou a forte presença de visitantes argentinos, e alerta que a tendência é o turismo na cidade aumentar ainda mais.

—- Temos cerca de 40 a 50% de turistas argentinos no Rio. As companhias aéreas dizem que a demanda vai crescer muito, o que pode influenciar essa sensação de aumento nos crimes.

Por fim, a delegada enfatiza que o golpe do “Boa Noite, Cinderela” é um crime grave, mas ainda pode ser subestimado pela sociedade.

—- Muita gente encara como se fosse uma brincadeira, mas é uma infração gravíssima. O criminoso reduz a capacidade da vítima para subtrair seus bens. Isso não pode ser romantizado ou visto como algo bobo. É uma violência séria que deixa marcas físicas e psicológica.



Conteúdo Original

2025-08-12 09:00:00

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