Num passado não tão distante, obras da própria Gloria Perez e de autores como Manoel Carlos apresentavam histórias com conflitos humanos que faziam assuntos virem à tona e serem discutidos pela sociedade. Foi através de “Mulheres Apaixonadas” (2003), por exemplo, que o Brasil debateu a violência doméstica e os maus tratos contra idosos, e de “Explode Coração” (1995) que olhamos com mais atenção o desaparecimento de crianças.
As novelas dialogavam com os espectadores de diferentes classes sociais e formações culturais. Foram essas produções que tiveram a coragem de abordar questões comportamentais pelo viés do melodrama que ficaram marcadas na memória do público.
Recentemente, temas que geram engajamento na internet foram inseridos na teledramaturgia sem que houvesse respeito a uma regra básica para o desenvolvimento de qualquer trama: a história precisa ser soberana e não pode servir a uma causa.
É um enredo recheado de relações humanas e conflitos identificáveis que vai permitir que um assunto desconhecido ou controverso seja apresentado e tratado com profundidade e delicadeza para que os espectadores tenham a chance de assimilar e entender aquela questão. No afã de querer agradar as redes sociais, muitos autores adotam um tom professoral e colocam a trama a serviço de uma pauta e o público, que não desenvolveu uma ligação emocional com aquela história e com os personagens, rejeita esse didatismo patético.
Gloria Perez tem um estilo de narrativa que não é unânime, mas seu currículo mostra que ela está totalmente correta quando luta pelo direito de criar novelas que provoquem e até desagradem. Foi por conta dessa inquietação e teimosia que a teledramaturgia brasileiro produziu obras inesquecíveis, como “Barriga de Aluguel” (1990) e “O Clone” (2001).
2025-08-12 06:15:00