No Brasileirão deste ano, muitos repararam que o grito do vizinho já não tem chegado com a antecedência que, até pouco tempo atrás, entregava o gol que sequer havia aparecido na sua TV. E isso não é apenas impressão. Enquanto os clubes se preparavam para o campeonato, uma outra corrida acontecia por trás das telas: contra o famoso delay, o “atraso” na imagem que se tornou um incômodo para o espectador moderno. Agora, nem tanto assim… É que, desde o início desta Série A, as transmissões on-line do canal Premiere passaram a chegar com mais rapidez.
Tecnicamente chamado de latência, o delay é a demora entre os instantes em que as informações são transmitidas em sua origem e recebidas pelo destinatário (TVs, smartfones, tablets e computadores). Mas, popularmente, o termo é usado para se referir à diferença de tempo entre recepções distintas.
Por ser mais direto, sem muitas etapas no caminho, o sinal de TV aberta por radiodifusão é o que chega primeiro ao destino. Logo, o que o público convencionou chamar de delay é o tempo de diferença que os demais receptores levam para transmitir esse mesmo conteúdo em relação a ela.
Até o começo deste ano, o sinal do Premiere chegava, pela internet, numa média de 20 segundos depois da TV aberta. Era o equivalente a você já saber que houve gol mesmo com a jogada ainda sendo iniciada na sua tela. Agora, essa diferença caiu para cerca de sete segundos, fazendo a transmissão passar a ser considerada de baixa latência (inferior a 10s). A experiência de assistir a uma partida já não é afetada como antes.
Não foi apenas o grito do vizinho que se tornou menos incômodo. Segundo Eduardo Gabbay, diretor de canais esportivos da Globo, outro “estraga-prazeres” da transmissão por streaming são as notificações dos aplicativos de celular, que trazem informações dos jogos em tempo real.
— A TV aberta é uma referência de antecipação para a questão do delay. Mas hoje a gente está em um ambiente que tem as notificações também. E o próprio WhatsApp. Então, essa diferenciação do Premiere fica até mais importante — explica.
Mas como isso foi possível? Primeiro, é preciso entender que, do envio da imagem até sua exibição, nem todo o caminho é de responsabilidade do gerador do conteúdo. Há outros fatores. Um deles é a localização geográfica do receptor: um sinal enviado do Rio, por exemplo, vai levar mais tempo para chegar a uma cidade do Mato Grosso do que ao estado de São Paulo. Por isso, o tempo de delay pode variar para cada usuário. E as transmissões por internet são ainda mais complexas, pois passam pela infraestrutura das operadoras.
De forma simplificada, o que o Premiere fez foi otimizar a parte que lhe diz respeito. São elas a codificação do vídeo para os meios digitais, a rede de distribuição do conteúdo (CDN) e os players (softwares que executam o vídeo dentro das plataformas ou aplicativos).
— Se eu mexesse só na parte de codificação ou só na CDN, talvez não conseguisse ter um sucesso tão grande na redução de latência como o que a gente conseguiu. A soma desses três pilares foi importante — avalia Diego Ramos, diretor de plataformas digitais da Globo.
A pouco mais de um ano da próxima Copa do Mundo, em 2026, o objetivo da empresa é ampliar a transmissão em baixa latência para outros canais. Mas o pontapé inicial pelo Premiere foi estratégico. Primeiro porque é nas transmissões esportivas que o delay incomoda o público. Afinal, saber que o vizinho está alguns segundos à sua frente durante a exibição de um show ou de um telejornal não é um problema como nos jogos de futebol.
Além disso, há o contexto. A redução do delay nas exibições on-line ocorre no início do novo ciclo de direitos de transmissão (2025-2029) da Série A, marcado pela entrada de outros detentores tanto na TV aberta quanto no streaming.
— A gente acabou de fechar um novo ciclo da Série A, e nove dos dez jogos (por rodada) estão no Premiere. O canal tem esse apelo para um público que é mais aficionado, engajado e exigente — diz Gabbay, que destaca ainda a mudança de perfil de consumo do público. — Ele está muito acelerado nessa transição para uma distribuição digital. Hoje, mais de 50% dos assinantes do Premiere são de origem OTT (iniciais de over-the-top, sistema de transmissão pela internet). Então, (a baixa latência) virou um componente muito importante de experiência do Premiere.