Reconhecer e agir diante de sinais de ansiedade nas crianças é crucial para garantir o desenvolvimento saudável e prevenir impactos a longo prazo
Sentir medo, preocupação e insegurança faz parte do desenvolvimento infantil. São reações naturais diante de situações novas ou desafiadoras, como o primeiro dia de aula ou dormir longe dos pais. No entanto, quando essas emoções se tornam intensas, persistentes e começam a interferir na rotina da criança, pode ser um sinal de transtorno de ansiedade — condição que merece atenção e cuidado.
O que caracteriza um transtorno de ansiedade na infância
O transtorno de ansiedade infantil ocorre quando os medos deixam de ser proporcionais às situações enfrentadas. A criança continua apresentando sintomas mesmo após receber apoio e segurança, ou reage de forma extrema a situações comuns do dia a dia — como ir à escola, falar com desconhecidos ou dormir sozinha.
A importância do diagnóstico precoce
Os transtornos de ansiedade figuram entre os problemas psiquiátricos mais comuns na infância e adolescência. Estima-se que entre 7% e 12% das crianças apresentem algum transtorno de ansiedade diagnosticável. Se não tratados, esses distúrbios podem persistir na vida adulta e aumentar o risco de depressão, dificuldades acadêmicas, baixa autoestima e isolamento social.
O diagnóstico pode englobar diferentes tipos de ansiedade, como:
- ansiedade de separação
- fobia social
- transtorno de ansiedade generalizada
- transtorno do pânico
- fobias específicas
- agorafobia
- mutismo seletivo
Sintomas que merecem atenção
- medo intenso de ficar longe dos pais ou de realizar atividades cotidianas
- preocupações excessivas e persistentes
- dificuldade para dormir
- irritabilidade ou crises de choro
- queixas físicas frequentes, como dor de barriga, dor de cabeça, sudorese, tremores, taquicardia e falta de ar
- recusa escolar ou retraimento social
Esses sinais podem variar conforme a idade e o tipo de transtorno, mas, em geral, impactam o desempenho escolar, as relações sociais e o bem-estar emocional da criança.
Família e escola: pilares na identificação e no apoio
Educadores e familiares estão em posição privilegiada para perceber mudanças comportamentais. Crianças ansiosas podem:
- ter dificuldade para se concentrar
- recusar atividades em grupo
- demonstrar medo exagerado de errar ou ser julgadas
- se isolar ou apresentar comportamento desafiador
A escola pode contribuir oferecendo um ambiente acolhedor e mantendo diálogo constante com os pais. Estes, por sua vez, devem escutar sem julgamentos, reconhecer o sofrimento da criança e buscar ajuda profissional ao perceber que o medo está interferindo na rotina.
Quando e como buscar ajuda especializada
É recomendável procurar um psicólogo infantil quando os sintomas persistirem por mais de quatro semanas e estiverem prejudicando a vida cotidiana da criança. Um psiquiatra infantil pode ser indicado para uma investigação diagnóstica mais detalhada ou avaliação da necessidade de medicação — algo que deve ser feito com cautela e acompanhamento constante.
A avaliação clínica envolve entrevistas com a criança e os responsáveis, aplicação de instrumentos padronizados e, sempre que possível, informações dos professores. Muitas vezes, a criança se expressa com mais facilidade por meio de desenhos ou brincadeiras do que em conversas diretas.

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Atenção e cuidado podem mudar tudo
Transtornos de ansiedade na infância podem ser confundidos com timidez, birra ou preguiça. Ignorar os sinais significa perder a chance de oferecer à criança ferramentas para lidar com suas emoções e desenvolver autonomia. O diagnóstico precoce, o apoio da família e intervenções como a terapia cognitivo-comportamental fazem toda a diferença para que a criança cresça com mais saúde mental e segurança emocional.
*Por Alessandro Danesi – CRM 57.351 / RQE 57.526
Médico Pediatra e Head Nacional de Pediatria da Brazil Health