O que deveria ser um marco de requalificação urbana e luxo no coração da zona sul do Rio de Janeiro está se tornando um verdadeiro tormento para quem vive ao redor. A reforma do icônico Hotel Glória, fechado desde 2013 e em processo de transformação em um condomínio residencial de alto padrão, tem gerado uma avalanche de denúncias e transtornos que tiram o sono — e a paciência — da vizinhança. Além disso, expõe a falta de fiscalização por parte da prefeitura.
Barulho fora da lei e entulho em queda livre
A promessa é de apartamentos que chegam a R$ 6 milhões, com entrega prevista para 2026. Mas, enquanto o futuro se desenha em mármore e vidro, o presente é feito de cimento molhado, poeira e caos. Moradores relatam barulho de maquinário pesado antes das 8h da manhã, em flagrante desrespeito à Lei do Silêncio, que permite atividades ruidosas apenas entre 10h e 17h nos dias úteis.
Barulho de bares e desordem desvalorizam imóveis na Zona Sul
Além do ruído, há relatos de entulho caindo sobre calçadas e veículos, com episódios graves como o de um menino atingido por respingos de cimento ao voltar da escola. O programador Theo Novaes, que vive a poucos metros da obra, afirma que o prédio não possui proteção adequada para conter os resíduos. “Chove entulho na calçada. A obra ignora completamente a lei”, denuncia.
Apagões e fiação cortada
A mãe de Theo, Juliana Novaes, moradora da Ladeira de Nossa Senhora, relata que caminhões circulam na contramão, caçambas ocupam calçadas e há danos à fiação elétrica e tubulações.
“Já ficamos até cinco dias sem luz”, afirma. A falta de fiscalização da prefeitura é um dos pontos mais criticados pelos moradores, que dizem não ver ações efetivas para conter os abusos.
Trânsito travado e saúde em risco
O trânsito na região também sofre com bloqueios constantes causados por caminhões e equipamentos da obra. A poeira, que se acumula em varandas e móveis, afeta diretamente a saúde dos moradores, especialmente os que têm doenças respiratórias.
“O chão da minha varanda vive cinza. E esse mesmo pó que entra na minha casa também entra nos meus pulmões”, lamenta Theo.
Construtora se defende, prefeitura se omite
A SIG Engenharia, responsável pela obra em parceria com o grupo Opportunity, afirma que “toda obra possui características inerentes que podem alterar a rotina da vizinhança” e destaca a geração de empregos e valorização da região como benefícios futuros. Já a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento informou que os responsáveis técnicos foram intimados a cumprir normas de segurança e limpeza, mas moradores dizem que as medidas são insuficientes e pontuais.
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Clamor por fiscalização
Enquanto o Glória Residencial avança com promessas de luxo e sofisticação, os moradores clamam por respeito, fiscalização e dignidade. O que era para ser um símbolo de renascimento urbano está se tornando um retrato da negligência pública e do descaso com a vida cotidiana.
Com informações do g1.
2025-08-05 17:32:00