Investigação da PGR aponta corrupção em licitação milionária da COP30 – Agência de Notícias

Arte sobre foto do Governo do Pará/Reprodução Com informações do Metrópolis. O que começou como uma denúncia anônima às vésperas das eleições de 2024 em Castanhal, no Pará, levou a Polícia Federal a flagrar o policial militar Francisco Galhardo com



Arte sobre foto do Governo do Pará/Reprodução

Com informações do Metrópolis. O que começou como uma denúncia anônima às vésperas das eleições de 2024 em Castanhal, no Pará, levou a Polícia Federal a flagrar o policial militar Francisco Galhardo com R$ 5 milhões em espécie. O caso, tratado inicialmente como compra de votos, revelou indícios de corrupção em contratos milionários vinculados à COP30 e colocou no centro das investigações o deputado federal Antônio Doido (MDB-PA), sua esposa, o secretário de Obras do Pará e duas empreiteiras com contratos no valor de R$ 265 milhões com o governo estadual.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o PM Galhardo não atuava apenas como segurança do deputado. Ele era homem de confiança de Doido e, entre 2023 e 2024, sacou cerca de R$ 48,8 milhões em espécie de contas ligadas às empresas J.A Construcons e JAC Engenharia, cujos sócios são, respectivamente, a esposa do deputado, Andréa Dantas, e um funcionário de sua fazenda, Geremias Hungria — o mesmo que foi preso ao receber R$ 380 mil das mãos de Galhardo.

As empresas, conforme os dados obtidos pela PF e pelo Coaf, venceram duas licitações do governo do Pará relacionadas à COP30: uma de R$ 142 milhões e outra de R$ 123 milhões. Ao menos uma delas, segundo a PGR, apresenta fortes indícios de corrupção.

Mensagens comprometedoras e saques milionários

No celular apreendido com o PM, a PF encontrou mensagens trocadas com o secretário de Obras do Pará, Ruy Cabral, em datas coincidentes com os saques e com o anúncio da vitória do consórcio liderado pelas empresas ligadas ao deputado. Em 20 de setembro de 2024, mesmo dia da adjudicação, Galhardo sacou R$ 6 milhões e passou a tentar contato com o secretário.

Mensagens como “Vem”, “Entra. Vem. Na minha porta atrás” e áudios em que Galhardo diz ter deixado valores com “Andreia” — supostamente a esposa do deputado — reforçaram as suspeitas de entrega de propina. Segundo a PGR, há “fortes elementos de corrupção passiva e ativa”, e os envolvidos “aparentam integrar organização criminosa voltada ao desvio de recursos públicos”.

Os diálogos entre Galhardo e Ruy Cabral prosseguiram nos dias seguintes, com novos encontros e tentativas de comunicação, documentadas pela PGR. A procuradoria afirma que o padrão de mensagens e movimentações financeiras configura um roteiro clássico de favorecimento ilícito em processos licitatórios.

Investigação no STF e revogação do contrato

Com base nas provas, a PGR pediu em fevereiro deste ano a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal contra Antônio Doido, sua esposa, o PM Galhardo e o secretário Ruy Cabral. O caso está sob relatoria do ministro Flávio Dino. A PF já deu seguimento à apuração dos fatos.

Um mês antes, o governo do Pará revogou o contrato com o consórcio vencedor. Oficialmente, o Estado afirma que algumas obras inicialmente listadas para a COP30 foram retiradas do escopo final. Mas a PGR vê relação direta entre a decisão e as denúncias que vieram à tona após a prisão do PM e a exposição do esquema.

O que dizem os citados

A assessoria do governo do Pará, inicialmente, negou que o contrato estivesse vinculado à COP30. Após ser confrontada com a informação em site oficial, admitiu que a conferência “abriu oportunidades estratégicas” para melhorias na infraestrutura. O governo também alegou que o secretário Ruy Cabral “não participou de reuniões” com Galhardo e que nenhuma notificação judicial foi recebida.

A defesa do deputado Antônio Doido afirmou que repudia o “vazamento criminoso” das informações da investigação, negou irregularidades e disse que o parlamentar está à disposição para esclarecimentos. A nota afirma que os questionamentos já foram respondidos nos autos e que “são fruto de ilações”.

Repetição de um velho roteiro?

A investigação sobre os contratos da COP30 reacende alertas sobre o histórico de grandes eventos internacionais no Brasil marcados por escândalos de corrupção, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Com a cúpula climática marcada para acontecer em Belém, em novembro de 2025, a escalada de denúncias e suspeitas coloca em xeque a lisura das contratações e ameaça comprometer a imagem do evento.



Conteúdo Original

2025-08-04 17:31:00

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