Oruam se entregou na Cidade da Polícia na noite do último dia 22Érica Martin/Arquivo O Dia
Rio – O rapper Oruam foi transferido, nesta segunda-feira (4), para uma cela compartilhada com presos do Comando Vermelho. Mauro Davi dos Santos Nepomuceno está preso no complexo da Penitenciária Dr. Serrano Neves, em Bangu, Zona Oeste.
Segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), a transferência aconteceu após audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ).
Os promotores afirmam que Oruam e Willyam agiram com dolo eventual, ou seja, assumiram o risco de matar. A denúncia destaca que algumas das pedras arremessadas pesavam até 4,85 kg, com potencial para causar lesões fatais. Ao todo, sete pedras teriam sido jogadas do de uma janela do andar superior, em uma altura de 4,5 metros. Diante da gravidade dos fatos, o MPRJ pediu a prisão preventiva dos dois, alegando risco à ordem pública e à condução das investigações.
“A doutrina nacional é pacífica ao reconhecer que o dolo eventual se caracteriza quando o agente não deseja diretamente o resultado típico, mas prevê sua ocorrência como possível e, mesmo assim, assume o risco de produzi-lo”, ressalta a denúncia da 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da Área Zona Sul e Barra da Tijuca.
Na decisão, a juíza Tula Corrêa de Mello, da 3ª Vara Criminal do Rio, destacou que os acusados assumiram o risco da letalidade da ação. “Da mesma forma que uma arma de fogo pode instrumentalizar um delito de lesão – dependendo da região do corpo, distância e eventual socorro fornecido à vítima -, o instrumento eleito pelos denunciados, aliado à pontaria (cabeça das vítimas), dimensão, volume e quantidade das pedras, bem como método de arremesso de cima para baixo, ganha especial relevância em termos de análise do elemento subjetivo, no caso o dolo eventual, na medida em que as circunstâncias e comportamento subsequente dos agentes não revela arrependimento, indiciando que assumiram o risco da letalidade da ação”, escreveu.
Confusão registrada em vídeo
Nas imagens, é possível ver Oruam e vários amigos discutindo com os agentes, que entram no veículo. Eles estavam no local para cumprir mandado de busca e apreensão contra um adolescente apontado como ladrão de carros. Em certo momento, o artista atinge ao menos quatro vezes a janela do motorista, onde estava Moysés. Em seguida, um dos homens puxa o cantor para que ele se afastasse do carro. Enquanto isso, outros continuam gritando e gesticulando em direção aos policiais.
Prisão preventiva
Além de aceitar a denúncia contra os acusados, a juíza Tula de Mello manteve a prisão preventiva de ambos. Para a magistrada, Oruam desprezou as forças policiais, desafiando os agentes a prendê-lo no Complexo da Penha, na Zona Norte, para onde foi após a ação no Joá. A região é dominada pelo Comando Vermelho.
De acordo com Mello, a postura do rapper abala a ordem pública, pois ele se trata de uma figura conhecida e pode incitar fãs a terem o mesmo tratamento contra policiais.
“O acusado Mauro, com visibilidade em razão de suas apresentações como ‘artista’, é referência para outros jovens e que, como o ora acusado, podem acreditar que a postura audaciosa de atirar pedras e objetos em policiais é a mais adequada e correta, sem quaisquer consequências. A paz pública, portanto, depende de medidas firmes e extremas, como a prisão, a fim de que seja preservada”, justificou.
Na ocasião, o policial Alexandre foi golpeado nas costas e no calcanhar esquerdo, enquanto o delegado Moyses conseguiu se abrigar atrás da viatura. Os veículos utilizados na operação foram danificados.
Processo por outros crimes
Além do processo da tentativa de homicídio, o MPRJ denunciou, nesta terça-feira (29), Oruam e outras três pessoas por lesão corporal, tentativa de lesão corporal, resistência com violência, desacato, ameaça e dano ao patrimônio público.
A denúncia foi protocolada pela Promotoria de Justiça junto à 27ª Vara Criminal da Capital. Assim como o rapper, respondem pelos crimes: Willyam Vieira, Pablo Ricardo de Paula Silva de Morais – preso em flagrante no dia da confusão – e Victor Hugo Vieira dos Santos.
O que diz a defesa de Oruam
Na ocasião da da decisão da Justiça por tornar Oruam réu, o filho de Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho, admitiu, por nota, que atirou pedras contra os agentes, mas alegou que o fez após ser ameaçado com armas. “Só joguei pedras depois de ser ameaçado com armas de fogo, e tenho provas”, iniciou.
Segundo o rapper, mais de 20 viaturas entraram na casa “de forma abrupta e agressiva”, com policiais descaracterizados, que revistaram o local, rasgaram pertences seus e de sua noiva, Fernanda Valença, e apontaram fuzis contra os dois.
2025-08-04 16:38:00