Ecocardiograma: a chave para detectar doenças cardíacas antes dos sintomas

Este é um exame fundamental para descobrir problemas cardíacos precocemente, frequentemente antes mesmo do aparecimento de sintomas; conheça os principais tipos de ecocardiograma Freepik Muitas doenças cardíacas progridem de forma silenciosa, sem sintomas evidentes, até que o dano seja extenso


Este é um exame fundamental para descobrir problemas cardíacos precocemente, frequentemente antes mesmo do aparecimento de sintomas; conheça os principais tipos de ecocardiograma

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Muitas doenças cardíacas progridem de forma silenciosa, sem sintomas evidentes, até que o dano seja extenso

A detecção precoce de qualquer doença é crucial, mas no contexto das cardiopatias, ela pode ser a diferença entre a vida e a morte, ou entre uma qualidade de vida comprometida e uma vida plena. O coração é um órgão robusto e adaptável, mas sua capacidade de compensação é limitada. Muitas doenças cardíacas progridem de forma silenciosa, sem sintomas evidentes, até que o dano seja extenso e, muitas vezes, irreversível. Identificar essas alterações nos estágios iniciais permite intervenções que podem retardar, cessar ou até reverter o processo da doença.

O que é o ecocardiograma?

Como cardiologista, sou entusiasta de uma ferramenta incrível que nos permite visualizar o coração em detalhes de forma não invasiva: o ecocardiograma. Este é um exame fundamental que nos auxilia a descobrir problemas cardíacos precocemente, frequentemente antes mesmo do aparecimento de sintomas.

Pense no ecocardiograma como um ultrassom especial, direcionado ao coração. Ele utiliza ondas de ultrassom para gerar imagens em tempo real do órgão em funcionamento, permitindo análise do formato, da espessura da musculatura, da circulação sanguínea e do funcionamento das válvulas. Trata-se de um exame indolor, que não necessita de preparação especial, com duração média de 10 a 15 minutos no caso do ecocardiograma transtorácico habitual. Para cada situação clínica, há um tipo específico de eco mais indicado.

Principais tipos de ecocardiograma

Ecocardiograma Transtorácico (ETT)

Este é o exame padrão, fundamental para avaliação inicial do coração. Verifica a anatomia cardíaca, o tamanho das câmaras, a espessura das paredes, a função de bombeamento (incluindo a Fração de Ejeção) e o funcionamento das válvulas, identificando presença de vazamentos ou estreitamentos. Também auxilia no diagnóstico de insuficiência cardíaca, doenças valvares, hipertensão pulmonar e outras condições.

Ecocardiograma Transesofágico (ETE)

Nesse método, o aparelho é semelhante a uma sonda fina e flexível introduzida pela boca até o esôfago, procedimento realizado com sedação leve e anestesia local. O ETE é indicado para investigação de coágulos, planejamento de cirurgias cardíacas, infecções nas válvulas, causas de AVC de origem indeterminada e certos defeitos congênitos.

Ecocardiograma com Estresse

Existem duas formas de realizá-lo: por meio de exercício físico em esteira ou bicicleta, ou pelo uso de medicamentos que simulam esforço cardíaco. Ele é indicado para investigar dor no peito sob esforço, avaliação da gravidade de doença coronariana já conhecida e para pacientes que vão passar por cirurgias de alto risco.

Ecocardiograma Fetal

Realizado na barriga da gestante, foca exclusivamente no coração do bebê em formação. Indicado em casos de histórico familiar de cardiopatia congênita, diabetes materno, uso de medicações específicas durante a gravidez ou suspeita de alterações cardíacas no ultrassom de rotina.

Ecocardiograma com Contraste (Microbolhas)

Consiste na injeção de microbolhas na veia, o que amplia a visualização das estruturas cardíacas e ajuda a identificar alterações difíceis de serem captadas no exame convencional, como desvios de sangue anormais e avaliação precisa da função ventricular.

Ecocardiograma e prevenção: quando ele muda o destino do coração

Dizemos sempre que prevenir ainda é o melhor remédio, e com o coração isso não é diferente. Muitas doenças cardíacas surgem silenciosamente e se desenvolvem sem sinais evidentes – é nesse contexto que o ecocardiograma sobressai como recurso essencial. Uma modalidade especial, o ecocardiograma com strain (eco strain), tem ganho destaque na detecção precoce de disfunção miocárdica em diferentes cenários, mesmo quando a função cardíaca global parece normal:

  • Cardiotoxicidade devido a quimioterapia: Pacientes submetidos a certos quimioterápicos podem apresentar danos cardíacos detectados precocemente pelo eco strain, antes da redução da fração de ejeção, permitindo ajustes terapêuticos.
  • Cardiomiopatia diabética: O eco strain revela disfunção miocárdica subclínica em diabéticos, mesmo com fração de ejeção preservada.
  • Hipertensão arterial sistêmica: Identifica, em estágios iniciais, sinais precoces de disfunção do coração relacionados à hipertensão, antes do desenvolvimento de hipertrofia significativa.
  • Cardiomiopatias infiltrativas: Doenças como amiloidose apresentam padrões típicos de strain, colaborando com o diagnóstico precoce.
  • Doença arterial coronariana subclínica: Detecta isquemias ou pequenos infartos em pacientes ainda assintomáticos.
  • Valvulopatias: Revela impacto inicial de alterações valvares na função ventricular antes da dilatação cardíaca ou queda da fração de ejeção.

Quem deve fazer ecocardiograma mesmo sem sintomas?

É natural a dúvida sobre realizar o exame sem sintomas evidentes. O ecocardiograma é recomendado individualmente, considerando histórico de saúde, fatores de risco e características pessoais de cada paciente.

Alguns grupos, no entanto, têm grande benefício em exames de rotina:

  • Pessoas submetidas a tratamentos oncológicos potencialmente cardiotóxicos.
  • Indivíduos com doenças genéticas relacionadas ao coração.
  • Atletas de alto rendimento ou praticantes de esportes intensos, principalmente se houver histórico familiar de morte súbita ou doenças cardíacas.
  • Pessoas com suspeita de cardiopatias congênitas.

Dessa forma, o ecocardiograma é uma poderosa ferramenta diagnóstica para detecção precoce e manejo de diferentes quadros cardíacos, muitos deles sem sintomas por longos períodos. Ele oferece ao cardiologista subsídios para ações preventivas e intervenções nos estágios iniciais da doença, o que pode salvar vidas e preservar a saúde do coração. Se você pertence aos grupos de risco ou tem dúvidas sobre sua saúde cardiovascular, converse com um médico sobre a necessidade do exame. A prevenção e o diagnóstico precoce são suas maiores aliadas no cuidado com o coração.

*Por Rodrigo Almeida Souza – CRM-PA 7926 | RQE 4130/4137
Cardiologista clínico e intervencionista





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