Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), fala sobre o tarifaço
A lista de mais de 700 exceções divulgada pela Casa Branca ao confirmar o tarifaço de 50% sobre produtos do Brasil comprados pelos EUA ignora o café e a carne bovina, dois dos principais alimentos que o país de Donald Trump importa.
Ainda assim, os setores ligados a esses produtos dizem acreditar que eles poderão ser contemplados em acordos futuros.
“A lista de exceções nos sinaliza espaço para caminhos de negociação”, afirma a associação da indústria de café, a Abic. Trump adiou o início da medida, que seria nesta sexta (1º), em uma semana.
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Não é só o Brasil que perde com o tarifaço: os EUA compram de fora 99% do café que consomem e o Brasil é o principal fornecedor, respondendo por cerca de 30% do mercado norte-americano.
O Brasil também é o principal fornecedor de carne bovina para indústrias nos EUA, que a transformam em hambúrguer, por exemplo. O país norte-americano até compra mais carne da Austrália, mas aí são aqueles cortes que vão direto para os mercados.
Brasil é o maior fornecedor para os EUA de café e de carne para indústria
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O suco de laranja, outro alimento de peso nas importações dos EUA, escapou de imposição dos 50%, mantendo a sobretaxa de 10% anunciada por Trump em abril, explica Leonardo Munhoz, pesquisador da FGV Bioeconomia.
Na véspera da confirmação do tarifaço, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, chegou a dizer que alguns produtos não cultivados no país, como o café, poderiam ter tarifa “zero”.
Sem mencionar o Brasil, ele citou ainda a manga, o abacaxi e o cacau, mas esses produtos também não entraram na lista de exceções.
EUA dependem do café brasileiro
O Brasil é o maior fornecedor de café não torrado para os EUA, seguido por Colômbia, Vietnã e Honduras, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA.
Café bom do Brasil vai todo para fora?
Antes da confirmação da sobretaxa de 50%, o setor já esperava que as vendas para os EUA continuassem no mesmo patamar mesmo com a imposição de Trump.
“Nesse momento, o importador ainda tem em estoque o café que não foi taxado, então ele pode praticar um preço médio para o consumidor norte-americano”, disse Celírio Inácio, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) disse que seguirá em tratativas com seus pares dos EUA, como a National Coffee Association (NCA), para que o produto passe a integrar a lista de exceções do governo americano.
Isso porque abandonar o café brasileiro não seria uma saída para os EUA.
Tanto o Brasil quanto a Colômbia produzem principalmente o café do tipo arábica, mais suave, que é o preferido pelo consumidor americano. Mas a produção colombiana não se compara à brasileira em volume.
E ela deve ser ainda menor na safra em 2025/26, em relação à anterior, por causa do excesso de chuvas, segundo projeção do USDA.
Uma saída para o mercado americano seria priorizar o café do tipo robusta. Mas isso exigiria mudar o gosto do consumidor, já que este é um café mais encorpado.
Por outro lado, o Vietnã é o líder mundial na produção desse tipo de café (o Brasil é o segundo colocado). E a sobretaxa de Trump sobre importações de produtos país asiático é menor que a do Brasil: caiu de 46%, como anunciado em abril, para 20%, em acordo fechado agora em julho.
Os EUA são o maior cliente do café brasileiro, mas a Alemanha compra um volume semelhante (veja no gráfico ao fim da reportagem).
Carne está cara nos EUA, e importações sobem
As vendas de carne bovina do Brasil para os EUA chegaram a bater o recorde histórico no começo do ano, antes de Trump anunciar o tarifaço de 10% em abril (e agora subirá para 50%). Depois, começaram a cair.
Os EUA estão importando mais carne porque faltam bois para o abate.
A inflação do alimento no mercado americano está batendo recorde por causa de uma redução histórica do rebanho do país, que encareceu o preço do boi por lá – em maio, ele estava custando duas vezes mais que o boi brasileiro.
Tarifaço vai impactar venda de carne aos EUA, mas não é só o Brasil que perde
Não é só tarifaço: mosca mortal também pode aumentar preço da carne nos EUA
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) se reuniu na tarde desta quarta-feira (30) com o vice-presidente Geraldo Alckimin. Na véspera, a entidade estimou que o Brasil poderia perder US$1 bilhão em vendas para os EUA com a sobretaxa de 50%.
Segundo a Abiec, nenhum mercado pode substituir imediatamente os EUA, em virtude do grande volume demandado pelos importadores e do preço que eles estão em condições de pagar.
Os EUA não são o maior cliente da carne do Brasil: ficam bem atrás da China em volume de compras.
Mas as empresas brasileiras de carne bovina esperavam vender cerca de 400 mil toneladas até o final do ano para os EUA, o que agora é considerado inviável.
“As fábricas já pararam de produzir as carnes especificamente para os EUA”, afirmou o presidente da Abiec, Roberto Perosa.
Pescados dependem dos EUA
Os pescados, por sua vez, têm o mercado norte-americano como destino de cerca de 70% das exportações. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) lamentou o alimento não ter entrado na lista de exceções do tarifaço.
“Não há alternativas viáveis de mercado”, diz a Abipesca. “O impacto será severo e imediato, com repercussões sociais e econômicas profundas, especialmente em regiões onde a atividade pesqueira é a principal fonte de emprego e renda.”
A associação destacou o Ceará, “onde empresas têm sua operação diretamente atrelada a esse fluxo”.
“Mais de um milhão de pescadores profissionais, além de milhares de famílias, serão diretamente afetados”, disse a nota.
Raio X da exportação
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