Claramente a Marvel está correndo atrás da própria glória perdida, um esforço em se repetir sem parecer que está se repetindo que afeta a dinâmica do filme. Cravar que “Primeiros Passos” é melhor do que todas as encarnações anteriores do Quarteto no cinema, ou mesmo da cepa recente da Marvel, é acusar o óbvio. A seu favor, Shakman consegue, em um universo de histórias que constantemente se esbarram, criar um filme que não precisa de bula para ser compreendido.
Nesse ponto, o pecado de “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” é sua falta de foco. Visualmente a produção é um deleite, a amostra perfeita de como um filme de super-heróis deve parecer: existe textura, existe cor, nuances e contraste – o oposto do feijão com arroz árido de boa parte do material do estúdio. A superciência inspirada na arte do mestre Jack Kirby, cocriador dos heróis, está impressa no exagero elegante de seu design. O elenco, por sua vez, é bonito e entrosado, criando sem esforço a dinâmica familiar da equipe – menos vigilantes fantasiados, mais aventureiros e exploradores.
Estranhamente, esses elementos não dão liga ao longo da espinha dorsal da trama. Embora “Primeiros Passos” tenha todos os ingredientes em mãos, o bolo ainda fica solado. Falta cuidado para lapidar melhor os personagens (o conflito de Reed é esparso, o de Ben é inexistente), falta pulso para transformar as ideias em espetáculo. O subtexto do peso da responsabilidade em se colocar como protetores do planeta não gera a discussão que ensaia. A trama parece apressada quando, por vezes, precisa desacelerar para que a carga emocional faça sentido. Falta, por fim, aquela cena para levantar a plateia no cinema!

É quando Galactus, por fim, pisa em Nova York – e “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” parece acordar de seu torpor. Quando ele abre caminho esfarelando arranha-céus como um gigante colossal, e não como uma nuvem amorfa (esse vai para a conta de “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”), a aventura finalmente se torna o espetáculo em grande escala que prova por que a era dos super-heróis teima em não abandonar o tecido da cultura pop.
O segredo, sem nenhuma surpresa, estava ali, escancarado, desde o primeiro segundo: não importa o assombro da pirotecnia, ou a grandiosidade da produção, são sempre as relações humanas que nos enchem os olhos. É a camaradagem honesta e leal entre amigos, a redescoberta da compaixão em uma adversária, o elo inviolável entre mãe e filho. Quanto mais “Primeiros Passos” se volta para emoções mais afloradas, mais o filme se agiganta.
2025-07-23 12:00:00