O avanço das facções criminosas sobre setores essenciais no Ceará voltou a se intensificar nos últimos meses, reacendendo o alerta sobre a escalada do crime organizado no país. Após o pico de violência registrado entre fevereiro e março — quando empresas de internet foram alvo de incêndios e sabotagens — novas ações criminosas vêm sendo registradas em diferentes regiões do estado. Nesta semana, mais dois suspeitos foram presos, elevando para 79 o número de detidos por envolvimento nos ataques a provedores que se recusaram a pagar taxas extorsivas.
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Extorsão como método de controle
Segundo a Polícia Civil, os ataques tinham como objetivo forçar os provedores a repassar parte da mensalidade paga pelos clientes às facções. Empresas que resistiram foram punidas com violência. Em alguns bairros, criminosos chegaram a determinar quais provedores poderiam operar e quais deveriam ter seus equipamentos destruídos.
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Facções em expansão nacional
O Comando Vermelho lidera os ataques no Ceará, mas o cenário é parte de um fenômeno mais amplo. Segundo o Ministério da Justiça, o Brasil abriga hoje 88 facções criminosas, que atuam em todos os estados e já dominam territórios, serviços e até disputam influência política. Estima-se que mais de 23 milhões de brasileiros vivam em áreas sob controle direto de facções ou milícias.
O Estado acuado
Especialistas apontam que o crescimento das facções se alimenta da fragilidade da legislação penal e da política de segurança pública do governo federal, com sua política de desencarceramento. Em muitos locais, grupos criminosos substituem o poder público, oferecendo “segurança”, julgamentos paralelos e até serviços como internet e transporte.
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Um alerta para o país
O caso do Ceará é um retrato de um Brasil onde o crime organizado avança sobre setores essenciais, como telecomunicações, e desafia abertamente o poder público. A resposta estatal, ainda marcada por políticas que têm beneficiado criminosos em detrimento das vítimas e que se recusam a reconhecer as facções criminosas como organizações terroristas, parece insuficiente diante da profissionalização e do poder econômico dessas organizações, que movimentam bilhões em mercados ilegais.
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2025-07-18 07:00:00