Tarifa de 50% contra produtos brasileiros preocupa empresas nacionais, pelo risco de prejuízos e da perda de empregos. Medida também pressiona os consumidores nos EUA, já que pode encarecer alimentos importantes, como o café e a carne bovina. Trump anuncia tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos do Brasil por razões ideológicas
A nova tarifa de 50% contra produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve afetar diretamente empresas e produtores de setores estratégicos da economia nacional, que vendem seus produtos para os norte-americanos.
É o caso dos exportadores de petróleo, de aço, café e carne bovina, por exemplo, produtos que lideram as vendas do Brasil para os EUA. As exportações de suco de laranja e de aeronaves também podem ser fortemente impactadas.
Outra preocupação no Brasil é a inflação. O mercado financeiro reagiu mal à nova taxa e o dólar subiu forte nas horas seguintes ao anúncio de Trump.
“Se o dólar permanecer alto, a inflação no Brasil persiste e o Banco Central mantém os juros altos [atualmente no patamar de 15%, o maior em quase 20 anos]. Isso desacelera a economia e pode entrar em recessão”, alerta o economista Robson Gonçalves, professor de MBAs da FGV.
🔎 Entre outros motivos, a alta do dólar gera inflação à medida que encarece as importações. A lógica do BC é que subir os juros desestimula o consumo pois fica mais caro fazer empréstimos ou compras a prazo. Ao reduzir o consumo, a demanda por produtos diminui, o que ajuda a controlar a inflação, que ocorre quando a oferta não acompanha a demanda.
Apesar disso, especialistas ouvidos pelo g1 explicam que os consumidores brasileiros não são os únicos que podem vir a sentir o efeito da tarifa no bolso, ainda que em menor escala. A medida também pode impactar os preços dos alimentos nos EUA, principalmente do café.
Cerca de um terço do café consumido nos EUA, o maior consumidor mundial da bebida, vem do Brasil, que é o maior produtor mundial. As exportações anuais de café brasileiro para os EUA chegam a cerca de 8 milhões de sacas, segundo grupos do setor.
“Os americanos vão procurar outros produtores globais [para substituir as importações brasileiras], mas, no caso do café, não vão encontrar no mercado externo tudo o que precisam. E o preço já está caro no nível internacional”, diz Gonçalves, da FGV.
Veja abaixo mais detalhes sobre os impactos da nova tarifa para o Brasil e para os EUA.
Grão de café
Stephanie Rodrigues/g1
Brasil
Os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apontam que o Brasil vendeu US$ 40,33 bilhões em produtos para os americanos em 2024.
⚠️ Mesmo assim, o Brasil têm déficit comercial em relação aos EUA desde 2009, ou seja, compra mais do que vende para o país. (entenda mais aqui)
Dessa forma, “se as tarifas forem efetivamente aumentadas [a partir de 1º de agosto], o Brasil perde muito espaço dentro de um parceiro comercial superimportante”, resumiu o economista Daniel Sousa, comentarista da GloboNews, em entrevista ao podcast O Assunto.
A Associação Brasileira das Exportadoras de Carne declarou que o aumento da tarifa atrapalha o comércio e afeta negativamente o setor produtivo.
A avaliação do setor é de que as vendas de carne de boi aos americanos vão ficar praticamente “inviáveis” se não houver negociação. E a tendência é que os frigoríficos brasileiros se direcionem para outros mercados internacionais, como o asiático.
Segundo Daniel Sousa, já existe uma tentativa de diversificar os destinos das exportações brasileiras, assim como têm feito outros parceiros americanos. Ele citou como exemplos o acordo Mercosul–EFTA e as negociações com a União Europeia.
No caso do café, o Brasil dificilmente conseguirá redirecionar para outros países todo o volume que hoje exporta aos EUA, afirma Robson Gonçalves, da FGV.
E, com o aumento da oferta no mercado interno, a consequência pode ser uma queda nos preços por aqui. Porém, “se o dólar permanecer alto, pode ofuscar os efeitos desse aumento de oferta”, pondera.
A tarifa também deve afetar as vendas brasileiras de aeronaves (as ações da Embraer caíram mais de 3% nesta quinta-feira), de petróleo, de semimanufaturados de ferro ou aço, materiais de construção e engenharia, madeira, máquinas e motores, e eletrônicos. (veja a lista aqui)
Lembrando que, além da taxa anunciada nesta semana, produtos como o aço e o alumínio já enfrentam tarifas de 50%, o que tem impactado diretamente a siderurgia brasileira.
Preço do café sobe quase 4% após anúncio de Trump
Estados Unidos
Do outro lado da balança, a decisão de Trump também deve impactar o consumidor americano, justamente porque o Brasil é um grande vendedor de café, suco de laranja, açúcar, carne bovina e etanol para os EUA, entre outros produtos.
Com a elevação da tarifa, os exportadores tendem a repassar o custo aos consumidores. E, como no caso do café, os EUA nem sempre conseguirão substituir totalmente as importações vindas do Brasil.
Mais da metade do suco de laranja vendido nos EUA, por exemplo, vem do Brasil, que detém 80% do comércio global do produto.
“Essa medida impacta não só o Brasil, mas toda a indústria de sucos dos EUA, que emprega milhares de pessoas e tem o Brasil como seu principal fornecedor há décadas”, disse Ibiapaba Netto, diretor executivo da CitrusBR, associação brasileira da indústria de suco de laranja.
Nesse sentido, a Associação dos Exportadores de Suco declarou que a sobretaxa é péssima para o setor como um todo e que atinge os próprios americanos, que há décadas têm o Brasil como principal fornecedor externo.
A carne bovina também tem sido um problema. A inflação do produto para o consumidor americano está batendo recorde por causa de uma redução histórica do rebanho do país, que encareceu o preço do boi por lá — ele está custando duas vezes mais que o boi brasileiro. Daí a disparada nas importações da carne.
Apesar disso, a analista de macroeconomia Sara Paixão, da InvestSmart, ressalta que o Brasil respondeu por apenas 1,4% das importações totais dos Estados Unidos em 2024. Por isso, o impacto direto da tarifa sobre a economia americana tende a ser limitado.
Segundo ela, outra questão que poderia impactar os EUA nesse contexto é que “a imposição de tarifas pode fazer com que outros blocos econômicos se juntem para fortalecer as relações comerciais”, deixando os EUA mais isolado.
Infográfico – Entenda taxa de 50% anunciada por Trump ao Brasil e a relação econômica com os EUA.
Arte/g1
*Com informações da agência de notícias Reuters.
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