A defesa de Luiz Antônio Garnica, suspeito de arquitetar a morte da própria mulher com ajuda da mãe, Elizabete Arrabaça, em Ribeirão Preto (SP), nega envolvimento do médico no crime. Em entrevista ao GLOBO, o advogado Júlio Mossin afirmou que Elizabete planejou sozinha o assassinado da nora, a professora de pilates Larissa Rodrigues, por questões de disputas patrimoniais.
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Ainda de acordo com a defesa, a aposentada teria dívidas avaliadas em cerca de R$ 300 mil, parte delas por ter vício em jogos de azar. Elizabete também seria investigada pela morte e tentativa de homicídio em outros dois casos. Um deles é o da própria filha, Nathália Garnica, que também morreu envenenada em fevereiro. O outro caso envolveria uma amiga da aposentada, com quem ela teria uma dívida. Segundo o advogado, a vítima chegou a ficar internada, mas sobreviveu e prestou depoimentos à polícia esta semana.
— São fatos isolados que, quando somados, mostram uma linha de atuação parecida. No caso da amiga, por exemplo, havia uma dívida envolvida, mas também questões relacionadas ao patrimônio. Após a separação do marido, a Elizabete gastou tudo o que tinha e acumulou dívidas que já ultrapassam R$ 300 mil. As investigações apontam que ela chegou a fazer pesquisas sobre o que teria direito caso a filha morresse — afirmou o advogado.
Na história teria ainda a morte do cachorro de Nathália, que deve ser exumado para constatar se também foi envenenado.
A defesa de Luiz Antônio defende que a aposentada queria os bens do filho e, por isso, teria assassinado Larissa primeiro, após a vítima demonstrar interesse em pedir o divórcio depois de descobrir uma traição. Com a separação do casal, Larissa ficaria com parte do patrimônio de Luiz Antônio, já que o casamento era com comunhão parcial de bens.
O GLOBO procurou a defesa de Elizabete e aguarda retorno. Em carta escrita dentro do presídio, a aposentada alega que ela e o filho são inocentes.
Mortes de Nathália e Larissa
As mortes de Nathália e Larissa aconteceram em um intervalo de um mês. A filha de Elizabete faleceu no dia 9 de fevereiro deste ano, em Pontal (SP). Inicialmente, a polícia tratava o caso como morte natural por conta de um infarto, mesmo ela não tendo histórico de doenças cardíacas. Posteriormente, exames laudos toxicológicos apontaram a presença de chumbinho tanto no corpo da vítima. Um dia antes, Elizabete Arrabaça esteve com a filha.
Larissa foi encontrada morta pelo marido, Luiz Antônio Garnica, na manhã de 22 de março, em Ribeirão Preto (SP). Uma perícia também apontou que ela tinha sido envenenada com chumbinho. Elizabete e Luiz Antônio, irmão de Nathália, foram presos no dia 6 de maio, por suspeita de participação na morte da professora de pilates.
Apesar de negar envolvimento do médico na morte de Larissa, o Ministério Público de São Paulo denunciou mãe e filho por homicídio triplamente qualificado. Segundo informações do órgão, durante cerca de duas semanas, a professora de pilates foi envenenada aos poucos, sem saber que estava sendo vítima de um plano articulado pelo próprio marido e pela sogra. O ciclo de envenenamento terminou em tragédia em 21 de março, em Ribeirão Preto (SP), pouco tempo depois de a vítima manifestar o desejo de encerrar o casamento após descobrir uma traição.
Segundo as investigações, o médico arquitetou o crime, enquanto sua mãe ficou incumbida de executá-lo oferecendo à vítima alimentos contaminados com a substância tóxica conhecida como chumbinho. Ainda de acordo com o apurado, mãe e filho agiram motivados por questões patrimoniais após a vítima descobrir que o marido tinha uma amante e expressar a vontade de se divorciar.
O promotor de Justiça Marcus Túlio Nicolino ressaltou que os denunciados demonstraram extrema frieza, utilizando meio cruel, recurso que dificultou a defesa da vítima e dissimulação. Luiz Antônio ainda é acusado de tentar alterar a cena do crime e eliminar provas digitais e físicas, incluindo limpeza do local e exclusão de arquivos eletrônicos. Após o assassinato, ele demonstrou pressa para acessar o dinheiro da esposa, chegando a realizar transações e pagamentos com o cartão e aplicativo dela.
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Mãe e filho, que estão presos desde 6 de maio, foram denunciados por feminicídio com três qualificadoras: uso de veneno, motivo torpe e cruel mediante simulação e uso de recursos que dificultaram a defesa de Larissa. O médico ainda pode responder por fraude processual.
Diante da gravidade dos fatos e do risco concreto de fuga, especialmente pela boa condição financeira da família dos acusados, o Ministério Público requereu a conversão das prisões temporárias em preventivas, além de pedir a quebra dos sigilos bancários dos envolvidos.
De acordo com o advogado de Luiz Antônio, a movimentação financeira após a morte de Larissa foi feita para pagar dívidas da própria vítima.
— Ele chegou a pagar o IPVA do carro da Larissa com o dinheiro da conta da dela e também usava essa conta para quitar faturas do cartão de crédito dela, porque não queria que deixá-la com dívidas. Antes mesmo da abertura do inventário, procurou o gerente do banco para saber como poderia transferir valores para o pai da Larissa — disse Julio Mossin.
2025-07-02 17:01:00